terça-feira, 25 de outubro de 2011

A 1ª República (da implementação à queda)

Da Monarquia à República
   
  A 5 de outubro de 1910 uma das mais antigas Monarquias europeias é substituída por uma República. Isto devido a vários factores que levaram a Monarquia portuguesa a cair em descrédito. Portugal tinha uma economia de base agrícola, era dependente do exterior, tinha uma balança comercial deficitária que se fazia acompanhar de altos impostos, de inflação e desemprego que acabou por se concretizar na bancarrota em 1889. A nível social os trabalhadores não dispunham de direito à greve nem de descanso semanal regulamentado. Trabalhavam entre 12 e 14 horas por dia sendo-lhes pagos baixos salários. Estes trabalhadores eram sobretudo não instruídos pois a taxa de analfabetismo nacional era superior a 80%. No campo político a governação tinha cedido de boa vontade ao Ultimato Inglês, isto aos olhos de uma população pouco instruída e incapaz de perceber a impotência militar e diplomática do país em 1890. Nos últimos anos da Monarquia verificava-se um rotativismo partidário sem produzir resultados positivos. E a família Real ostentava-se através de fundos das contas públicas enquanto o país padecia de fome.
   
  Visto isto sociedades secretas como a Carbonária e a Maçonaria em conjunto com o PRP (Partido Republicano Português) movimentam-se no sentido de a 1 de fevereiro 1908 cometerem o regicídio sobre o Rei D. Carlos e seu filho e herdeiro, o Príncipe Real D. Luís Filipe e a 5 de Outubro de 1910 destituir a Monarquia Constitucional e implementar um regime republicano em Portugal (figura1).

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Figura 1 Representação do 5 de Outubro de 1910.


  A jovem República propõe-se desde logo a solucionar os problemas do anterior regime. É criada uma Constituição – Constituição de 1911 – e procede-se com a Lei de Separação do Estado das Igrejas - a laicização do Estado através: da validação do casamento apenas se comprovado pelo registo civil assim como os nascimentos; da expulsão dos jesuítas; da privatização de bens da Igreja e da legalização do divórcio -; a regulamentação do horário de trabalho para 8 horas diárias, descanso semanal ao domingo assim como o direito à associação a sindicatos e à greve – este direito deu origem a uma subida nos salários e nas condições de trabalho (por exemplo, em 1919, a exigência do seguro social obrigatório contra desastres no trabalho) pois era a primeira vez a ser usado, legalmente, em Portugal, verificando-se assim múltiplas greves após a instituição deste direito – e são feitos investimentos na Educação de modo a diminuir a taxa de analfabetismo nacional (Figura 2).

Figura 2 – escola primária durante a 1ª República.

Contudo a dependência externa continua; as contas públicas verificam-se desordenadas (à exceção de 1913 quando estas se mostraram positivas); a agricultura procede como base da economia e os investimentos na Educação não surtem resultados significativos.
  Esta República ‘ateísta’, ao tomar medidas anticlericais, distancia-se do grande número de religiosos que o país tem como tradição (Figura 3). Igualmente se distancia das camadas conservadoras, e das grandes fortunas assim que favorece as camadas baixas (e médias) da população que eram o pilar de apoio da República. Estava ainda mais afastada dos monárquicos - isto por razões óbvias - e daí se verificarem as tentativas de reimplantação da Monarquia de 1911 a 1913 por Paiva Couçeiro enquanto a República era ainda jovem.
 
 Figura 3 - caricatura de perspetiva religiosa do ‘mata-frades’ (Afonso Costa - ministro criador da Lei da Sepração do Estado das Igrejas). Aqui Afonso Costa agarra (controla) dois membros do Clero influenciado pelo ‘Diabo’. Pose esta a que a Santa Sé se opõe em forma de serpente.


O Estrangeiro e o Portugal…
   
  Após o fim da 1ª Guerra Mundial inicia-se a regressão do demo-liberalismo. As sociedades europeias deixam de acreditar nos governos de uma Europa cujas fábricas e campos estão destruídos, os combatentes não voltam para restituir a mão-de-obra e os que voltam estão inadaptados à sociedade enquanto que os países vencidos são desonrados perante os vencedores com o Tratado de Versalhes em 1919. As populações vivem vítimas da escassez de bens, da carestia de vida, de racionamentos e, portanto, uma galopante inflação. (Esta última era de ainda maior crescimento com a solução que os Estados europeus arranjaram: a impressão extra de dinheiro). Assim, influenciadas pela ‘bem sucedida’ Revolução de outubro na Rússia, as camadas mais baixas da sociedade sonham com o paraíso comunista que é ‘publicitado’ pela 3ª Internacional ou Internacional Comunista (Comintern) – criada em 1919 - que através do seu lema (“Trabalhadores do mundo, uni-vos!”) transmite a ideia de que uma Revolução Vermelha será a solução para os problemas e dificuldades da população menos favorecida. E assim se verificam os surtos grevistas, os levantes e os ataques bombistas que se espalharam pela Europa. Com uma solução política contrária em mente, as classes médias, os religiosos, as camadas conservadoras e os grandes proprietários temem o bolchevismo que ganha aceitação entre as camadas mais baixas. Temem o fim da propriedade privada que caso se sucedesse perderiam tudo aquilo que ganharam com o seu trabalho que já pouco os distanciava do proletariado devido à crescente inflação. Visto isto, entregar o poder a regimes fascistas de modo a resolver a crise económica e a repor a ordem sobre os ‘arruaceiros’ é um ‘mal menor’. É exemplo o apoio a Benito Mussolini que sobe ao poder em 1922 em Itália depois da ‘marcha sobre Roma’.
  Assim, após a entrada Portugal na 1ª Guerra Mundial em 1916 do lado da Tríplice Entente (Inglaterra, França e Rússia) combatendo a Tríplice Aliança (Impérios Alemão, Austro-Húngaro e Otomano), a situação agrava-se (Figura 4).


 Figura 4 – Mal treinados, mal equipados e mal moralizados alguns dos militares do Corpo Expedicionário Português são aqui fotografados como prisioneiros de guerra após a batalha de La Lys.


 O clima económico negativo da Europa influencia também Portugal sendo este ainda dependente do estrangeiro. E à semelhança do sucedido na Europa, o agravamento da situação política portuguesa continua e o descrédito na 1ª República acentua-se a partir do fim da 1ª Guerra Mundial. Mas já em 1915 a instabilidade política leva à efémera ditadura de Pimenta de Castro que apenas durou cerca de um mês; em 1917 à também breve ditadura do “Presidente-Rei” (Sidónio Pais) que teve uma duração de um ano e que se repercutiu na curta guerra civil de 1919 entre a Monarquia do Norte e a República. Isto porque o poder político se mostra incapaz de responder às necessidades do país. As sessões parlamentares eram dedicadas à tertúlia do quotidiano enquanto os oradores discursavam para um plenário repleto de deputados desinteressados. De modo igual ao que acontecia na Europa, o descontentamento social afasta o pilar da República - as camadas mais baixas da sociedade - em direção às ideias socialistas, comunistas. Daí em 1919, com a grande influência da propaganda comunista, dá-se a junção dos sindicatos nacionais na UGT (União Geral dos Trabalhadores) que se torna a linha da frente em contestação e propaganda comunista em Portugal. Por exemplo através do jornal ‘A Batalha’ que retrata as dificuldades e anseios do proletariado nacional (Figura 5). Também à semelhança do passado na Europa, as classes médias, as classes conservadoras, os religiosos e os grandes proprietários e temem o bolchevismo e começam a apoiar ideias de extrema-direita. Os monárquicos apoiam também última posição política devido a ser a que mais se assemelha à antiga Monarquia com o seu líder inquestionável.


Figura 5 – Publicação do jornal “A Batalha” que noticia em grande plano o alto preço/kilo do único tipo de pão e incita à greve geral.

A saída do pântano.
  “Na nossa frente abria-se um pântano. Cada passo que dávamos, mais a gente se enterrava, o país e o Exército.” (A justificação do Marechal Gomes da Costa Em Diário de Notícias de 31 de Maio de 1926).
Dado isto, numa ‘arrancada patriótica’, a 28 de Maio de 1926, o Marechal Gomes da Costa parte de Braga acompanhado por militares e populares em direção a Lisboa para a 6 de junho se reunir aí com as forças do Almirante Mendes Cabeçadas e - por mera coincidência ou não - fazer uma ‘marcha sobre Lisboa’ (Figura 6) encerrando o parlamento e exigindo a demissão do governo e do Presidente da República.


Figura 6 – Marechal Gomes da Costa (ao centro, montado a cavalo e erguendo a espada de oficial de cavalaria) apoiado por militares e populares em Lisboa na sua ‘marcha sobre Lisboa’ a 6 de junho de 1926.

E assim após oito Presidentes da República e quarenta e cinco governos em apenas 16 anos a 1ª República, que acaba com o nome de ‘República Velha’, dá lugar a uma Ditadura que começa por suspender as liberdades fundamentais e se torna nacionalista, autoritária, repressiva, antidemocrática, antiliberal e anti-comunista. Por ser primeiramente governada por militares, e cujo Presidente da República foi o Marechal Gomes da Costa, foi chamada Ditadura Militar (1926-1928). Depois com a nomeação por decreto de Óscar Carmona e consequente eleição do mesmo sem qualquer oposição em 1928 inicia-se a Ditadura Nacional (1928-1933). É durante esta fase da Ditadura que António de Oliveira Salazar é chamado a ministro das finanças e em 1932 o até então famoso e heróico ministro das contas públicas é nomeado Presidente do Conselho. Depois da aprovação da Constituição 1933 por referendo, Salazar inicia a última e mais durável das ditaduras em Portugal – o Estado Novo (1933-1974).

Em conclusão:
  A mudança de regime político de Monarquia Constitucional para uma República Parlamentar em Portugal trouxe, de facto, progresso ao país. Porém, devido a alguma ineficácia da tutela; de resistência a novos ideais por parte de uma tradição muito entranhada na sociedade portuguesa e ao contexto externo em que a República se fez nascer, esta fracassou. Por isso, após 16 anos da 1ª República surge a Ditadura como um ‘desvio do beco sem saída’ que era a República à altura já ‘velha’ e sem progresso a apresentar ao país.

 


 
Fontes:

Bibliografia:

Manual História A 12º Ano “O Tempo da História” (1ª Parte) - Célia Pinto do Couto e Maria Antónia Monterosso Rosas (Porto Editora)

Webgrafia:

http://www.diario-universal.com/2007/05/aconteceu/28-de-maio-de-1926/
http://www.museu.presidencia.pt/presidentes_bio.php?id=101
http://cafeodisseia.blogspot.com/2009/02/o-centenario-comemorativo-do.html
http://arepublicano.blogspot.com/2010/04/batalha-jornal.html
http://www.laicidade.org/documentacao/historia/figuras-da-primeira-republica-afonso-costa/

Outras fontes:

Apontamentos das aulas.
 

Trabalho realizado por:
Davide Santos Nº13 12ºJ
 



















domingo, 23 de outubro de 2011

A Grande Depressão ou a Crise de 1929

O que foi a Grande Depressão?

A Grande Depressão ou Crise de 1929 foi uma grande depressão económica que começou nos Estados Unidos e se alastrou a todo o Mundo. Teve início em 1929 e persistiu ao longo da década de 1930, terminando apenas com a Segunda Guerra Mundial. A Grande Depressão é considerada o pior e o mais longo período de recessão económica do século XX. Durante o período da Grande Depressão, os Estados Unidos eram governados pelo presidente Herbert Hoover e pelo Primeiro-Ministro Richard Bennett.



Causas:
                                                                      
                                                              A era da prosperidade
Com o fim da 1ª Guerra Mundial em 1918, a Europa encontrava-se arruinada, quer a nível humano, quer a nível material. Mas, se por um lado, a 1ª Guerra Mundial provocou o declínio da Europa, por outro lado, beneficiou os países extra-europeus, como é o caso dos Estados Unidos, que se elevaram à categoria de primeira potência mundial. Assim, lucraram com a exportação de alimentos e produtos industrializados aos países aliados no período pós-guerra.
Nos 10 anos que se seguiram ao fim da 1ª Guerra Mundial, a economia norte-americana conheceu um grande crescimento, causando euforia entre os empresários. Foi nessa época que surgiu a famosa expressão “American Way of Life” (Modo de Vida Americano) – o mundo invejava o estilo de vida dos americanos. Prova desta era de prosperidade foram os “Loucos Anos 20”, onde o consumo aumentou, a indústria criava, a todo o instante, bens de consumo, clubes e boates viviam cheios e o cinema tornou-se uma grande diversão.
Legenda: "O mais alto padrão mundial de vida"; "Não há melhor maneira do que a maneira americana"
                                                     

Nesta era de prosperidade havia também uma politica de facilitação do crédito, processada pelos bancos que assim mantinha (artificialmente) o poder de compra americano. A compra de automóveis, electrodomésticos e imóveis realizava-se, na maior parte das vezes, com base no crédito e nos pagamentos em prestações, assim como as acções que os americanos detinham nas empresas. Confiantes na solidez da sua economia, muitos eram aqueles que investiam na Bolsa, onde a especulação crescia.

O automóvel foi um dos símbolos da prosperidade americana nos anos 20





                                     A Quinta-feira Negra (“crash” na Bolsa de Nova Iorque):


A indústria americana cresceu muito; porém, o poder aquisitivo da população não acompanhava esse crescimento. Aumentava o número de indústrias e diminuía o de compradores. Em pouco tempo, várias delas faliram.

A decadência nas vendas determinou um grande aumento dos stocks e ao mesmo tempo privou os industriais de capital necessário para saldar as suas dívidas ou mesmo manter a sua actividade. Desta forma, muitos empresários passaram a vendar as suas acções no mercado financeiro, elevando o seu valor como forma de levantar recursos e manter a produção.

O pânico instalou-se na quinta-feira de 24 de Outubro (conhecida como a quinta-feira negra), quando 13 milhões de títulos foram postos no mercado a preços baixíssimos e não encontraram comprador. Esta catástrofe ficou conhecida como o crash da Bolsa de Wall Street. Nos meses que se seguiram, centenas de milhares de accionistas conheceram a ruína.

A Quinta-feira negra ficou marcada pela série de suicídios ocorridos em decorrência do desespero dos accionistas que faliram com a queda da New York Stock Exchange (Bolsa de Valores de Nova Iorque) em Wall Street.

                                                                    Wall Street, Nova Iorque, em 1929

Uma vez que a maior parte dos títulos tinha sido adquirida a crédito, a ruína dos accionistas significou a ruína dos bancos, que deixaram de ser reembolsados. Com as falências bancárias, a economia paralisou, pois cessou a grande base de prosperidade americana – o crédito.

                                                                                          Em resumo…
Ao longo da década de 20, muitos bens eram adquiridos com o recurso ao crédito. Contudo, a partir de 1927, o consumo estagnou, mas a produção continuou a crescer. Por isso, muito do que era produzido ficava sem se vender por falta de compradores. Daí, a superprodução.
Por outro lado, a prosperidade dos anos 20 tinha criado um clima de confiança na economia, o que levou a uma compra exagerada de acções, cujo valor era superior ao real, isto é, especulativo. Por isso, a prosperidade era mais fictícia do que verdadeira.
Assim, motivos diferentes – superprodução e especulação na bolsa – explicam a crise de 1929.




A Dimensão da crise:


                                                             Dimensão económica e financeira:
Descapitalizadas pela retirada dos accionistas e pelas restrições do crédito, as empresas faliram. Com o aumento do desemprego, a procura diminuiu. Assim, a produção industrial contraiu-se e os preços baixaram.


O ano de 1933 foi o ápice da Grande Depressão nos Estados Unidos da América. As taxas de desemprego eram de 25% (ou um quarto de toda a força de trabalho americana). Cerca de 30% dos trabalhadores que continuaram nos seus empregos foram obrigados a aceitar reduções nos salários, embora grande parte dos trabalhadores empregados tenham tido um aumento nos salários por hora. Outro problema enfrentado foi a grande deflação - queda do preço dos produtos e custo de vida em geral. Entre 1929 e 1933, os preços dos produtos industrializados nos Estados Unidos caíram em cerca de 25%. Já o preço de produtos agro-pecuários caiu em cerca de 50%, por causa do excedente da produção destes produtos - primariamente o trigo. A quantidade destes produtos à venda excedia largamente a procura, o que causou uma queda dos preços dos mesmos. Os baixos preços levaram ao endividamento de muitos fazendeiros.



                                                                       Dimensão social:
A Grande Depressão foi responsável por cerca de 30 milhões de desempregados. Os países mais atingidos foram os Estados Unidos (com 12 milhões de desempregados), a Alemanha (com 6 milhões de desempregados) e a Inglaterra (com 3 milhões de desempregados).
Todas as camadas sociais foram afectadas. Muitos empresários faliram, as classes médias viram diminuídos os seus rendimentos e os operários e camponeses foram duramente atingidos. Por toda a parte, engrossou o número de pobres, pelo que as condições de vida de muita gente se tornaram miseráveis. Todos ofereciam os seus serviços por pouco dinheiro e alguns vendiam os seus bens a preços baixos para poderem sobreviver. Nas ruas formavam-se filas intermináveis à espera de refeições oferecidas pelas instituições de caridade (imagem à direita).

                                                                               Miséria Rural
 

Os chefes de estado e outras pessoas importantes dos países atingidos passaram a ser frequentemente considerados culpados pelo início da Grande Depressão por muito da população atingida pela recessão. As favelas dos Estados Unidos (abrigos rústicos feitos com telas de metais, madeira e papelão, onde as condições de vida eram precárias) foram apelidadas de Hoovervilles (imagem à direita), em uma sátira da população americana ao presidente Herbert Hoover. No Canadá, muitos donos de automóveis apelidaram seus veículos de Bennett Buggies - Carroças Bennett - em uma sátira ao Primeiro-Ministro Richard Bennett. Isto porque estas pessoas não tinham como adquirir o combustível necessário para abastecer seus veículos, ou cortaram a compra de combustível por considerarem um gasto supérfluo. Estes veículos passaram a ser usados como carroças, puxados por cavalos ou outros equinos.
Com a crise, aumentou também a discriminação: empregos eram dados primariamente aos brancos e, assim, o desemprego na população afro-americana era maior; as mulheres também foram afectadas, uma vez que a prioridade era dada para trabalhadores do sexo masculino; os imigrantes, vistos pela população como grupos étnicos que competiam com a “população nativa”, também tiveram pouca sorte na procura de emprego, daí a queda das taxas de imigração durante a Grande Depressão.
Além disto, a delinquência, a corrupção e o “gangsterismo proliferaram nesta época.


                                                                         
                                                                           Em resumo…
Muitos empresários não sobreviveram à crise e foram à falência, assim como vários bancos que emprestaram dinheiro não receberam de volta o empréstimo e faliram também.
A Grande Depressão não deixou nenhuma classe social de fora, atingindo todas de forma muito violenta. Esta crise trouxe medo, desemprego e falência. Milionários descobriram, de uma hora para outra, que não tinham mais nada e por causa disso alguns suicidaram-se. O número de mendigos aumentou. A pobreza e a fome afectou drasticamente a população.




A Mundialização da Crise:

                                                           A Crise no Mundo (Cartaz Alemão de 1931)

A crise americana estendeu-se rapidamente a todo o mundo. A rápida propagação da crise à Europa deveu-se, sobretudo à retirada de capitais, uma vez que desde a 1ª Guerra Mundial, os bancos americanos faziam importantes investimentos na Europa e, além disso concediam importantes empréstimos. Com a eclosão da crise, os americanos procuram fazer regressar os seus capitais provocando uma grande perturbação na Europa. Muitos bancos, sobretudo na Áustria, Alemanha e na Inglaterra, faliram ou conheceram sérias dificuldades, o mesmo aconteceu com as empresas que necessitavam de empréstimos bancários para sobreviverem.
Praticamente todos os países, da América do Norte, à Europa e ao Japão, da África à América Latina, acabaram por ser afectados de uma forma ou de outra pela crise.

                                                                                            


                                                                                                       A URSS:
A URSS foi o único país a não ser afectado pela Grande Depressão. Liderada por Estaline, em 1929, era um país socialista, que desenvolvia uma economia fechada e praticamente auto-suficiente. Ao contrário dos países europeus, não dependia dos Estados Unidos nem mantinha trocas comerciais com estes nem com nenhum país capitalista.
Como a crise foi fundamentalmente capitalista, a Rússia acabou por não sofrer as suas consequências e ainda acabou por ser fortalecida por ela.

                                                                           


                                                                                                     Em resumo…
A crise de 1929 não afectou apenas os Estados Unidos, mas também os países deles dependentes. Na Europa, devido à retirada dos capitais americanos, os bancos foram à bancarrota, provocando a falência de inúmeras empresas.
Nesta época, a União Soviética era um país socialista pelo que a sua economia – fechada ao comércio com países capitalistas – não conheceu a crise.




Fontes Consultadas:
Bibliografia:
ü  Sinais da História – História 9º Ano: Aníbal Barreira ; Mendes Moreira
ü  O Tempo da História – História A 12º Ano: Célia Pinto Couto ; Maria Antónia Monterroso Rosas

Webgrafia:
ü  http://saibahistoria.blogspot.com/2007/03/crise-de-1929-e-grande-depresso.html
ü  http://www.infoescola.com/historia/crise-de-1929-grande-depressao/
ü  http://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Depress%C3%A3o
ü  http://pt.wikipedia.org/wiki/Ter%C3%A7a-feira_negra
ü  http://www.miniweb.com.br/historia/artigos/i_contemporanea/crise_29.html




Trabalho realizado por:

  Bruna Silva, 12ºJ, nº9

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Um Novo Equilíbrio Global

Em 1914 a Europa e o Mundo mudaram para sempre. Conflitos e guerras sempre os houve, porém, neste ano eclodiu aquele que, não afectando apenas algumas nações, se alastrou a praticamente todas elas, provocando a maior devastação material e humana até à época registada. A Belle Époque terminaria com a chegada da guerra, levando com ela a expansão e o progresso, nomeadamente a nível intelectual e artístico, que caracterizavam este período anterior à Primeira Guerra Mundial. Também o poderio da Europa que ''dominava o mundo com toda a sua alta e antiga civilização'' (A. Démangeon, geógrafo e professor francês, 1920) se esvairia.

O tema que este trabalho vai abordar é, essencialmente, as consequências deste conflito e o novo equilíbrio global que ele impôs (Unidade 1.1). Porém, para perceber as suas repercussões é necessário contextualizar, de forma breve, o seu surgimento.


- CONTEXTO EM QUE SURGIU A 1ª GUERRA MUNDIAL - 
1) A PAZ APARENTE QUE ANTECEDEU A GUERRA

Europa, inícios do século XX. Um continente poderoso no apogeu do seu poderio sobre o mundo e, contudo, dividido. No seu interior, um conjunto de grandes potências acumulava tensões devidas, sobretudo, a rivalidades económicas (especialmente presas com questões coloniais), mas também a rivalidades políticas. Para perceber estas últimas, basta analisar o mapa da Europa até à I Guerra Mundial (1914-1918):

Fig. 1 - O mapa geopolítico da Europa em 1914.
- Na Europa Ocidental predominavam as democracias e monarquias liberais (Portugal, França, Inglaterra, Bélgica, Holanda…).

- Na Europa Central e Oriental, predominavam os regimes autoritários (Império Russo, Império Alemão, Império Austro-Húngaro…).


Existiam também reivindicações nacionalistas, de que são exemplo a França (que pretendia reaver a Alsácia e a Lorena), a Polónia (que pretendia ser autónoma) e a Península Balcânica (onde vários povos apoiados pela Rússia se tinham libertado do poder Turco mas permaneciam sob o poder Austro-Húngaro).


Foi neste clima de tensões que surgiu um complexo sistema de alianças, protocolos e garantias militares, levado a cabo pelas várias nações que angariavam apoios e aliados na eventualidade de uma guerra surgir.

O primeiro grande conflito armado começou em Julho, com a declaração de guerra da Áustria-Hungria, uma vasta nação imperial, à Sérvia, um país fronteiriço. O mapa geopolítico europeu não mais voltaria a ser o mesmo.


2) O DESPOLETAR DO CONFLITO

Num clima de tensões e alianças estabelecidas secretamente, não é de admirar que, ao mínimo conflito, a guerra deflagrasse. Assim aconteceu em Junho de 1914: o Arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do trono Austro-Húngaro, foi assassinado nas ruas de Serajevo (Bósnia-Herzegovina) por um jovem nacionalista sérvio.

O Império Austro-Húngaro apresentou, então, à Sérvia, uma série de exigências com o objectivo de punir quem estivesse relacionado com o assassínio do herdeiro e de pôr fim a intrigas que eram consideradas ameaças à paz da sua monarquia. A Sérvia acordou em aceitar algumas exigências e negociar outras, porém a Austro-Hungria não cedeu, rompeu relações diplomáticas com a Sérvia e declarou-lhe guerra em Julho desse ano. Na verdade, o assassínio do arquiduque foi apenas um pretexto para o conflito.

Deflagra, na Europa, o maior conflito armado até à época registado, fruto do complexo sistema de alianças que arrastou consigo muitas outras nações (Inglaterra, França, E.U.A., Portugal, Rússia, etc do lado da Sérvia – Tríplice Entente – e alemanha, Império Otomano, Itália, etc do lado da Áustria-Hungria – Tripla Aliança), o que culminou na MUNDIALIZAÇÃO DA GUERRA.


- O FIM DA GUERRA E AS SUAS CONSEQUÊNCIAS- 

’As luzes vão apagar-se em toda a Europa; não voltaremos a vê-las acesas enquanto vivermos.’’ 
(Edward Grey, secretário dos Negócios Estrangeiros britânico, 1914)


Fig.2 - Festejos do Armistício nas ruas de Paris, 1918.
De facto, embora se previsse uma guerra violenta mas curta, quatro longos anos de destruição, morte e miséria desgastaram a Europa, palco de guerra, e muitas outras nações que nela participaram.

Porém, a assinatura do armistício chegou em 1918, recebida com agrado e festejos pelas populações e militares dos diferentes países. 

Com a paz instalada, foi tempo de olhar os estragos: milhões de vidas ceifadas, extensos territórios destruídos e uma imensa desorganização económica e instabilidade política.

Mais pormenorizadamente, as consequências desta longa e desgastante guerra fizeram sentir-se a vários níveis:

ECONÓMICO


- A Europa encontrava-se em ruínas (as perdas materiais foram em grande escala e os solos ficaram destruídos). Importantes nações como a Itália, a França e Bélgica sofreram grande destruição, tendo sido as zonas da Bélgica e Nordeste de França das mais afectadas.

Fig.3 - Destruição de campos agrícolas.






As férteis colinas do Somme, França (na imagem ao lado)
destruídas pela batalha aqui travada e pelas 
crateras das granadas. Estas ‘’incinerações 
bárbaras’’ como lhes chamou o escritor espanhol 
Vicente Ibáñez deixaram muitos solos
 agrícolas impróprios para o cultivo.




Fig.4 - A Europa devastada: destruição
nas cidades e habitações



A onda de destruição fez-se sentir nas cidades europeias que foram alvo de bombardeamentos aéreos (imagem ao lado). Habitações, fábricas, etc., foram dizimadas.










- A Europa, que antes da guerra se encontrava no apogeu do seu poderio, sofreu um declínio económico, ficando totalmente desorganizada e com graves problemas nos sectores agrícola e industrial (as indústrias haviam sido convertidas para produzirem armamento).

- Os Estados Unidos ascenderam economicamente e sobrepuseram-se à Europa que deles ficou dependente (mais à frente esclarecer-se-á esta questão).


- Surge a crise do pós-guerra (1921) devido à restrição que os E.U.A. foram fazendo ao crédito, levando a que os preços decaíssem astronomicamente, a que houvesse um excesso de produção superior ao poder de compra, desequilibrando o mercado.

POLÍTICO

- A Europa atravessa um período de instabilidade política.

- A Europa vê o seu mapa político alterar-se com a assinatura do Tratado de Versalhes.

DEMOGRÁFICO

Fig.5 - As baixas entre os militares.
- Grandes perdas demográficas devido aos combates, sobretudo de homens jovens (os que participaram nas frentes de combate). Aos cerca de 10 milhões de soldados mortos, acrescentam-se as vidas de inúmeros civis. A Rússia foi a mais afectada em termos de baixas, uma vez  que o armamento e equipamento do seu numeroso exército eram difíceis com a sua indústria pouco desenvolvida. Os E.U.A., não tendo sido palco de guerra e só tendo entrado em 1917, sofreram baixas pouco significativas, assim como danos materiais.

- Grande número de inválidos (soldados retornados da guerra, por exemplo, mutilados) sem hipótese de integração na sociedade.

- Diminuição da população activa, em consequência dos mortos e dos inválidos.

- Diminuição da taxa de natalidade, devido às   mortes.





O pintor alemão Otto Dix foi um dos veteranos de guerra. Seguindo a corrente expressionista, retratou a realidade social da Alemanha do pós-guerra. Nos seus quadros (em baixo) podem ver-se deformadas figuras que representam os soldados mutilados e inválidos após o seu regresso das frentes de combate, evidenciando os danos humanos causados pela guerra.

                                                                
Fig.6 - ''Inválidos de guerra jogando às cartas'',
Otto Dix, 1920.


Fig.7 - Quadro de Otto Dix (nome desconhecido).





SOCIAL

- Aumento da agitação social e da contestação no pós-guerra.

- Afirmação das mulheres no mundo do trabalho, uma vez que os homens que haviam partido para a frente de guerra iam sendo substituídos pelas mulheres nos seus postos de trabalho, nomeadamente nas fábricas.

- Surgimento de uma nova mentalidade devida à presença da morte e da destruição durante a guerra, o que leva a uma mudança de hábitos e comportamentos norteados pela vontade de ''viver a vida ao máximo'' e de ''viver cada dia como se fosse o último''; o vestuário mais descontraído, as mulheres que fumam e frequentam espaços nocturnos são algumas das novas atitudes que surgem na sequência desta mudança de mentalidades que ficou conhecida pelos ''Loucos Anos 20''. 


1) AS NEGOCIAÇÕES DE PAZ

Após a Alemanha, abandonada pelos seus aliados, ter assinado o armistício, foi necessário proceder-se às negociações de paz. De modo a evitar um segundo conflito armado, as potências vencedoras reuniram-se em Paris, em 1919. Destacam-se três principais nações: a Inglaterra (representada por Lloyd George), a França (representada por Clemenceau) e os E.U.A. (representados pelo presidente Wilson). Serviram de base às negociações os ‘’14 pontos’’ que o presidente norte-americano Wilson lera ao Congresso americano em Janeiro de 1918.


O QUE DEFENDIAM OS ''14 PONTOS'' DE WILSON 
(a negrito, alguns princípios liberais que os nortearam)

Fig.8 - Woodrow Wilson (1856-1924),
Presidente norte-americano e
autor dos célebres ''14 pontos'' que
nortearam as negociações de paz
em 1919.

1.Prática de uma diplomacia transparente e fim dos tratados secretos, para evitar coligações como as que conduziram à mundialização da I Guerra.

2.Liberdade de navegação (princípio livre-cambista).

3.Liberdade de comércio (princípio livre-cambista).

4.Redução de armamentos, a fim de diminuir as condições para a eclosão de novo conflito.

5.Reajustamento das colónias, tendo em conta os interesses dos povos autóctones (princípio das nacionalidades).

6-9. Evacuação da Rússia e da França (com resolução do problema da Alsácia-Lorena, retirada pela Alemanha) e rectificação das fronteiras italianas (princípio das nacionalidades).

10. Independência das nações do ex-império Austro-Húngaro (princípio das nacionalidades).

11. Solução do problema balcânico (Roménia, Montenegro e Sérvia, sendo que à última deveria ser cedido o livre acesso ao mar – princípio livre-cambista).

12. Soberania e segurança para as regiões turcas do Império Otomano e livre passagem no estreito de Dardanelos (princípio livre-cambista).

13. Independência da Polónia (princípio das nacionalidades) e seu livre acesso ao mar (princípio livre-cambista).

14. Criação da Sociedade das Nações.


Apesar das intenções de paz do presidente Wilson, as suas ideias não chegaram a singrar, como se vai explicar mais adiante.

2) O TRATADO DE VERSALHES

Apesar das divergências de interesses (essencialmente imperialistas) e do desejo da França e da Inglaterra de uma rendição total e substanciais reparações económicas dos vencidos aos vencedores, o consenso chegou em Junho de 1919, concretizando-se nos tratados de Versalhes, Saint-Germain-en-Laye, Trianon, Neuilly e Sèvres que determinaram uma nova geografia política na Europa e Médio Oriente.


Destaca-se o Tratado de Versalhes que reuniu vários países vencedores e foi inspirado, como já referido, na mensagem em 14 pontos de Wilson. Centrava-se na problemática do direito de nacionalidade das minorias dominadas pelos anteriores Impérios e na repartição dos territórios coloniais não europeus. Assim, definia que:


- Existiriam novas fronteiras geopolíticas na Europa e Médio Oriente:

  • A Alemanha perde a Alsácia e a Lorena para a França;
  • A Polónia e a Dinamarca aumentam o seu território;
  • A Europa Central e Balcânica é totalmente reorganizada a partir do desmembramento do Império Austro-Húngaro, sendo que a Hungria e a Bulgária perdem territórios para a Grécia e a Sérvia e a Turquia abandona grande parte do seu território;
  • Algumas parcelas de território ficaram na posse da recém-criada Sociedade das Nações, instituída pelo mesmo tratado.


O mapa político da Europa altera-se e passa, então, a ser o seguinte:

Fig.9 - O recuo dos autoritarismos: o novo mapa geopolítico da
Europa, pós I Guerra Mundial (a amarelo os novos países).


- A Alemanha era responsável pela guerra, retirando-lhe parte do seu território (Alsácia-Lorena devolvidas à França) todas as suas colónias, toda a sua frota militar e parte da mercante, as minas de carvão do Ruhr e do Sarre (que passam para a França), reduzindo o seu exército e obrigando-a a pagar pesadas indemnizações aos vencedores.

Fig.10 - Capa de um jornal francês alusiva
ao Tratado de Versalhes (em baixo ''A
Assembleia Histórica de Versalhes'')
‘’A Alemanha e os seus aliados são responsáveis por tê-los causado [os estragos de guerra], por todas as perdas e danos , sofridos pelos governos aliados e associados e seus naturais, em consequência da guerra.'' 
(Art. 231 do Tratado de Versalhes)

''O montante dos ditos prejuízos será fixado por [a Comissão de Reparações].'' 
(Art. 233 do Tratado de Versalhes)

- Deveria ser instituída uma liga para a cooperação entre nações, a Sociedade das Nações (último ponto nos ''14 Pontos'' de Wilson).



O resultado foi o  abatimento dos impérios autocráticos, a emancipação de várias nações por eles subjugadas, o aumento dos regimes republicanos e das democracias parlamentares. Crê-se na vitória da justiça e num futuro risinho para a Humanidade.



3) A SOCIEDADE DAS NAÇÕES

A Sociedade das Nações, um instrumento de esperança de paz, foi, então, constituída com a assinatura do Tratado de Versalhes. Sediada em Genebra, esta liga de países pretendia ser um grande mecanismo de segurança colectiva capaz de garantir uma paz duradoura e um entendimento, pela via do diálogo, entre todas as nações. O principal objectivo era o de evitar um novo conflito, assegurando o primado do Direito Internacional. Para isso, assentava nos princípios:

- Da cooperação entre os povos: ''(...)desenvolver a cooperação entre as nações e garantir-lhes a paz e a segurança'' (Pacto da SDN).

- Da promoção do desarmamento: ''Os membros da Sociedade reconhecem que a manutenção da paz exige a redução dos armamentos nacionais'' (Art.8º do Pacto da SDN).

- Da solução dos problemas e conflitos pacificamente: ''Se um membro da Sociedade recorrer à guerra (...) será considerado como tendo cometido um acto de guerra contra todos os outros membros da Sociedade(...)'' (Art.16º do Pacto da SDN).

Porém, a Sociedade das Nações ou ''os Quatro'' (assim apelidada por ser gerida por quatro órgãos), foi alvo de duras críticas.

3.1) CRÍTICAS À ACÇÃO DA SDN E À NOVA ORDEM IMPOSTA

As resoluções tomadas pela nova liga de nações foram alvo de críticas numa Europa que, em vez de ter visto reunirem-se esforços pela sua reconstrução, viu, maioritariamente, os interesses de algumas nações serem atendidos.

O economista britânico Keynes foi um dos que criticou a acção da Sociedade das Nações. O excerto (ao lado) data do ano seguinte à sua fundação e critica:

- Em primeiro lugar, o facto de as reparações, principal preocupação da SDN no âmbito económico, terem sido levadas a cabo ‘’como um problema de teologia, de política e de táctica eleitoral’’, o que realmente se verifica, visto que os interesses dos ‘’impérios centrais vencidos’’ não foram tidos em conta e nada se fez para os colocar ‘’no meio de bons vizinhos’’.

- A situação da Rússia, uma vez que este antigo império, para além da perda de territórios, não foi em momento algum tido em conta nas negociações de paz, sendo que vivia, na altura, problemas internos e nada foi feito para os resolver.

- A Europa humanamente destruída que não teve também a atenção dos ‘’Quatro’’.

- O facto de não se ter procedido à boa organização dos ‘’novos estados europeus’’ já que, apesar das novas fronteiras, nem todos os povos viram as suas aspirações tidas em conta.

- O facto de países como a França terem visto tidas em conta as suas aspirações hegemónicas, sendo que esta nação, por exemplo, acartou os territórios da Alsácia-Lorena, do Ruhr e do Sarre e, ainda, pôde expandir-se para o Médio Oriente. 


Também Lawrence Jacks, filósofo inglês, criticou a SDN, afirmando que as diferenças de poder entre as nações trariam problemas no âmbito do cumprimento dos seus compromissos e da defesa dos seus interesses. De facto, nações vencidas como a Alemanha foram, numa primeira fase, postas de parte e impedidas de entrar na organização. Também estas se viram sobrecarregadas de obrigações e pagamentos com os quais se pretendia reconstruir as economias europeias (das nações vencedoras), à custa da asfixia económica dos vencidos.

A estas críticas junta-se a insatisfação de outras nações que faziam parte dos bloco vencedor. A Itália, por exemplo, que havia passado da Tripla Aliança para a Tríplice Entente, clamava uma ''vitória mutilada'', uma vez que alguns territórios que lhe haviam sido prometidos não lhe foram entregues. Portugal, participante oficial da guerra desde 1916, ao lado da Inglaterra, acusou as potências europeias de esquecimento, uma vez que este país nada recebeu em termos de reparações de guerra.
O próprio Congresso Americano não foi capaz de rectificar o Tratado de Versalhes, uma vez que não concordava com as pretensões hegemónicas e imperialistas de algumas nações europeias, como a França por exemplo.
Como já referido, os povos vencidos foram amplamente prejudicados, em vez de ajudados na sua reconstrução económica. Estes, humilhados, nunca aceitaram os tratados assinados, uma vez que não concordavam com as resoluções neles estabelecidas e não haviam sequer participado na sua elaboração. Bons exemplos disso são a Alemanha e  Rússia (que já havia sido prejudicada em termos territoriais com a sua saída precoce do conflito, em 1917).
As novas fronteiras estabelecidas foram, também, alvo de contestação, uma vez que vários povos eram abarcados por nações às quais não pertenciam, nem se identificavam. A Polónia, por exemplo, abarcava territórios povoados de ucranianos e bielorrussos e a Áustria, maioritariamente alemã, foi impedida de se juntar à Alemanha.

Sem o apoio americano, sem exército próprio, com a sua autoridade moral desacreditada e sem meios para resolver os conflitos territoriais que surgiram, os ''Quatro'' não foram capazes de cumprir o seu papel, deixando, até, sementes que originariam conflitos futuros: exemplo disso são o conflito dos Balcãs nos anos 90 e a 2ª Guerra Mundial. O ''sonho'' preconizado pelo presidente Wilson de uma paz duradoura  na Europa e no mundo, extinguiu-se em 1946, com o fim da organização.



4) O DECLÍNIO DA EUROPA E A ASCENSÃO DOS ESTADOS UNIDOS

Como já referido, as finanças europeias haviam ficado completamente desorganizadas após a I Guerra Mundial. As nações intervenientes foram em larga escala prejudicadas: a dívida nacional aumentou seis vezes na Itália, sete na França, dez na Grã-Bretanha e, na Alemanha, vinte vezes, números que traduzem a devastação das economias europeias. Como referido anteriormente, as indústrias e a agricultura viram o seu potencial reduzido. Para além disso, a Europa perdeu mercados estrangeiros e viu a sua produção de carvão diminuir substancialmente.
As moedas europeias desvalorizam, entrando num período de crise.

Mas como chegou a Europa a esta situação? A resposta encontra-se no esforço de guerra que as nações fizeram durante quatro longos anos e nas perdas humanas e materiais que se fizeram sentir. Para fazer face às necessidades durante o conflito, a Europa recorreu:

- Aos Estados Unidos  que se tornaram o principal fornecedor de armamento e outros equipamentos bélicos, fazendo com que as potências europeias ficassem cada vez mais dependentes economicamente desse país.

- À conversão de indústrias em unidades de produção de armamento e equipamentos de guerra, sendo que a sua reconversão no final da guerra foi, naturalmente, difícil.

Fig.11 - Indústrias europeias convertidas em indústrias de guerra,
durante o conflito.
No final da guerra, incapazes de se reconstruirem sozinhas, as nações beligerantes europeias recorrem, mais uma vez, ao crédito americano, por se encontrarem empobrecidas. De facto, criou-se um triângulo financeiro entre os Estados Unidos, a França e a Inglaterra e a Alemanha.

Fig.12 - Triângulo financeiro do pós-guerra.

Aqui é visível a situação em que ficou a economia europeia: a Alemanha, obrigada ao pagamento de pesadas indemnizações de guerra às nações vencedoras, recorria ao crédito americano para fazer face a esses custos. Com o capital recebido da Alemanha, nações vencedoras como a Inglaterra e  França pagavam as dívidas que haviam contraído dos E.U.A. durante a guerra. Por outro lado, os Estados Unidos cediam crédito às nações europeias para que estas se pudessem reconstruir, como é o caso da Inglaterra.

Para solucionar estes problemas os dirigentes europeus recorreram à produção massiva de notas para multiplicar os meios de pagamento e fazer face aos compromissos com os E.U.A. Porém surgem problemas, tais como:

Fig.13 - Evolução do marco alemão em relação
ao dólar americana entre Julho de 1914
e Novembro de 1923. A desvalorização do
primeiro é evidente, sendo que, no último
período apresentado, um dólar chegou a
valer a quantia de 4,2 triliões de marcos.
- A circulação de uma maior quantidade de moeda, sem um aumento correspondente na produção, que fez com que a moeda se desvalorizasse o que se traduziu numa subida de preços interna.

- A inflação que subiu, atingindo um valor muito elevado em 1920.

- Os países vencidos que não foram capazes de pagar as indemnizações a que estavam obrigados. A Áustria, por exemplo, declara falência em 1922 e fica sob a tutela da SDN e a Alemanha sofre uma intensa desvalorização do marco em relação ao dólar (na tabela ao lado pode ver-se a evolução da moeda alemã em relação à americana neste período).

Mais uma vez, a Europa vê-se na necessidade de tomar resoluções para solucionar os problemas económicos. Assim, pretendendo a estabilidade monetária, reúne a Conferência de Génova. Aí decide-se que as moedas europeias devem voltar à convertibilidade, isto é, na ausência de reservas de ouro, uma moeda seria convertida noutra mais forte porque convertível em ouro. O crédito americano é, mais uma vez, a base da sua recuperação económica. Seguem-se empréstimos avultados, nomeadamente para a Alemanha, para a França e para a Inglaterra. Consagra-se, assim, a dependência da Europa face aos Estados Unidos.


4.1) A ASCENSÃO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

Perante a situação económica desastrosa da Europa, após a I Guerra Mundial, algumas foram as nações que beneficiaram com isso. Nomeadamente, os Estados Unidos da América.

Em primeiro lugar, ao ser assinado o Tratado de Versalhes, um dos acordos de paz, os Aliados ficariam obrigados a comprar preferentemente aos E.U.A., levando a que fosse injectada uma elevada quantidade de capital e a que o comércio e a indústria americanos se dinamizassem. Cresceram as suas exportações e a sua produção de carvão e petróleo .
Assim, para além das cláusulas do Tratado de Versalhes acima referidas, os E.U.A. reuniram condições para se afirmarem como nova potência económica, uma vez que:

- Foram fornecedores da Europa durante e depois da guerra.

- Fizeram elevados empréstimos à Europa.

-  Eram detentores de metade do ouro mundial.

- Não foram palco de guerra, o que se traduziu em ausência de destruição.

- Tiveram perdas demográficas mínimas, uma vez que as frentes de combate não existiam no seu território e os seus exércitos só foram enviados para o conflito em 1917, um ano antes do final da guerra.

- Instituíram a racionalização do trabalho (fordismo e taylorismo) que permitia a redução dos custos de produção. 


5) FONTES CONSULTADAS

BIBLIOGRAFIA

GAVILÁN, Enrique, MONTAÑA, Manuel, entre outros, ''Grande História Universal - A 1ª Guerra Mundial''

PÚBLICO/EL PAIS, ''Século XX - Homens, mulheres e factos que mudaram a História''

SENDER, Ramón, entre outros, ''Imágenes y recuerdos - siglo XX 1910-1920''

Vários autores, ''Os Grandes Acontecimentos do Século XX''

COUTO, Célia, ROSAS, Maria, ''O Tempo da História 12''

WEBGRAFIA

www.infopedia.pt

www.theatlantic.com




Trabalho realizado por: 
Ana Rita Cruz, nº 3 12ºJ