As
Preocupações Sociais na Literatura e na Arte
As
vanguardas artísticas já estudadas previamente (o Fauvismo,
Expressionismo, Cubismo,
Abstraccionismo, Surrealismo e Dadaismo),
tendo nas primeiras décadas do século XX revolucionado o conceito de Arte até à
data conhecido pela Europa, foram substituídas por um género de Arte
relacionada com as preocupações de carácter social ou Neo-Realista acompanhada
por uma vertente figurativa nas artes plásticas. É importante salientar, ainda,
que as vanguardas artísticas do século XX deram lugar a esta nova arte num
clima de fadiga em relação à incerteza face à originalidade das obras e à
excessiva especialização das pesquisas, facto que conduzia à incompreensão por
parte do público.
A relação
entre o carácter social da Literatura e das Artes nos anos 30 com o contexto
político e económico que vigorava na época
Vários foram os
motivos, tanto a nível político como a nível económico, que levaram a que os artistas
da época se manifestassem:
A nível literário :
1.
Os graves problemas económicos provocados
pela Grande Depressão dos anos 30,
indignaram os escritores que viveram durante esse período, motivando-os então a
escreverem obras relativas a este difícil período da história. Um desses
escritores é John Steinback, já
conhecido nosso, que escreveu “As Vinhas
da Ira”, um livro que aborda a situação miserável de uma família Americana
cuja base de sustento era a agricultura e que, com toda a mendicidade provocada
pela crise dos EUA e ainda com as dificuldades climáticas (tempestades de areia),
partiu para a Califórnia em busca de emprego;
2.
Ernest
Hemingway, tendo sido afectado por toda a ameaça Fascista quando lutou na
Guerra Civil Espanhola contra os Falangistas, recontou no seu romance “Por Quem os Sinos Dobram” os episódios
mais marcantes da guerra:
Excerto da obra “Por
quem os Sinos Dobram”:
"O
fanatismo é uma coisa singular. Ser fanático requer absoluta certeza de que
está correcto, e nada estimula a certeza e a correcção como a castidade. A
castidade é a inimiga da heresia.
– Não – disse Pablo. – Não é verdade. Se
todos tivessem morto os fascistas como eu matei, não estaríamos nesta guerra.
Mas não deixaria acontecer como aconteceu.
– Por quê
que você diz isso? – Perguntou Primitivo. – Está a mudar a sua política? – Não.
Mas aquilo foi uma barbaridade – disse Pablo. – Naquele tempo eu era muito
bárbaro.
– E hoje você é um bêbado – disse Pilar.
– Sou –
disse Pablo.
– Com a
sua permissão. – Gostava mais de si quando era bárbaro – disse a mulher. – De
todos os homens, o bêbado é o mais idiota. O ladrão, quando não está a roubar,
é igual a qualquer outro. (…)"
________________________
3.
Já no teatro, o dramaturgo e poeta Bertolt Brecht tinha como principal
objectivo provocar o leitor de modo a que este fosse “obrigado” a participar
criticamente na obra.
Brecht retratou maioritariamente as consequências sociais e financeiras
causadas pela ascensão do Nazismo ao poder nas suas peças, causando uma
sensação de perplexidade no público.
A nível artístico:
1.
Otto
Dix, motivado pelos problemas causados devido ao pós-guerra, representava
na tela os soldados que haviam sido gravemente feridos graças à participação no
conflito mundial (1ª Guerra Mundial);
Figura 1 - Pintura de Otto Dix |
2.
A Grande
Depressão era representada na tela pelo grupo American Scene e a nova política económica levada a cabo por Roosevelt (o presidente dos EUA na época)
- o New Deal-, era retratado nos
muros de edifícios públicos por Diego
Riviera, representante da arte mural mexicana;
Figura 2 -
Mural de Diego Riviera
|
3.
Devido às inúmeras infracções relativamente aos Direitos Humanos, Pablo Picasso,
pintou uma das suas obras mais conhecidas nos dias de hoje: a Guernica.
E porque a pintou? Pintou-a graças a toda a frustração que sentia causada pela
invasão dos Nazis à cidade de Guernica, durante a Guerra Civil Espanhola (visto
que tinha sido a cidade mais afectada pela guerra);
Figura 3 - “Guernica” de Pablo Picasso |
Contudo, ainda que as situações acima referidas fossem
bastante revolucionárias em relação à Arte dos anos 30, o período decorrente
entre a 1ª e a 2ª Guerra Mundial não foi favorável para os artistas: a ousadia
de correntes como o Futurismo, que em meados do século XX havia enaltecido a
guerra, era vista como um insulto face às pessoas que tinham lutado e sofrido
na guerra.
A
Arquitectura, arte da colectividade
Tal como foi
dito anteriormente, o período entre o primeiro e o segundo conflitos mundiais,
ou seja entre 1919 e 1939, teve implicações no que diz respeito à Arte e à
Literatura. Contudo, não foram as únicas a sofrer marcas profundas: a
Arquitectura também as sofreu.
Visto que a
Europa havia sido palco de guerra no primeiro conflito mundial, havia a necessidade
de a reconstruir para que os cidadãos não ficassem desalojados. Deste modo,
ambicionava-se a construção de grandes edifícios com capacidades para suportar
os habitantes sob a condição de estas serem de carácter simples e digno e que
não fossem demasiado caras, pois a Europa ainda estava a recuperar dos gastos dispensados
na 1ª Guerra. É neste contexto que se criava um ambiente propício às pesquisas
dos arquitectos face ao que se considerava mais necessário em cada comunidade.
Chegou-se à
conclusão, em pleno século XX, que havia uma grande necessidade de se rejeitar
por completo a faceta decorativa excessiva das estruturas arquitectónicas
concebidas no século XIX (sendo marcadas pela falta de estilo próprio),
substituindo-as por planeamentos arquitectónicos que extrema confiança e
minuciosamente racionalizado.
O surgimento
e caracterização do Funcionalismo arquitectónico
No
seguimento de todo este raciocínio, durante a primeira metade do século XX,
tanto a arquitectura como o urbanismo sofreram uma revolução surpreendente: a
criação do Funcionalismo arquitectónico.
Para além de
tudo o que já referi anteriormente, outro dos motivos que acabou por levar a
que o mundo, no geral, sofresse diversas inovações foi a Segunda Revolução
Industrial, no século XIX. A implementação de novos materiais como o ferro, o
aço, o betão e o vidro nas fábricas fez com que, finalmente, se criasse um
alerta face à construção de habitações com qualidade para os operários.
A partir deste conceito de habitações para o
operariado, foi-se construindo, com o passar dos tempos, um novo conceito. Isto
pode-se comprovar através de um exemplo que se veio a mostrar determinante para
a formação do conceito: a fundação de uma escola na Alemanha, designada por Bauhaus, que tinha como princípio a
junção da arquitectura com a escultura, fazendo com que se estudasse
maioritariamente a relação entre a forma e a função na produção tanto de
objectos como na produção de edifícios e habitações arquitectónicos.
A Bauhaus, devido aos conteúdos inovadores
que abordava, foi extremamente influente tanto na design como na arquitectura
do século XX.
Figura 4-
A escola Bauhaus,
fundada por Walter Gropius
|
Entretanto,
da relação entre a forma e a função é criada a Arquitectura Moderna sob a
perspectiva funcionalista, conhecida também por Primeiro Funcionalismo.
Destaca-se,
relativamente a este concepção, o arquitecto francês Le Corbusier, defensor
assumido do Funcionalismo/Racionalismo.
Tanto Walter
Gropius como Charles- Édouard Jeanneret (Le Corbusier) são considerados os
fundadores da arquitectura moderna.
Os princípios do Funcionalismo, apoiados
por Le Corbusier, eram baseados:
- No
sentido prático dos espaços e na renovação da sua concepção, que consistia
na utilização do Homem como escala para a construção de uma casa e que esta
deve ter sempre ter em conta a vida que tem dentro dela (“ter uma casa prática como uma máquina de escrever”);
- No volume
simples do exterior, ou seja a casa em si, (“os cubos, os cones, as esferas, os cilindros ou as pirâmides são as
grandes formas primárias que a luz tão bem revela”);
- Na
rejeição de elementos simplesmente decorativos face à cobertura do edifício,
visto que as paredes lisas, na sua maioria brancas, eram a marca das
construções Funcionalistas (“Não há que
envergonhar-se (…) por ter paredes lisas como placas de chapa”);
- Na utilização de betão ou cimento armado para
que se pudesse construir janelas muito
grandes (“janelas semelhantes às das
fábricas”);
- - Na
transformação de coberturas planas em terraços com o intuito de se obter
mais luz e mais espaço no interior;
Figura 5-
Exemplo de uma construção de Le Corbusier
|
- Na
sustentação de um edifício em colunas (pilares) para dar a ilusão de
suspensão face ao jardim que se encontra por baixo;
- Na
criação de plantas de carácter livre para que houvesse flexibilidade em
relação aos espaços interiores mas que, em simultâneo, houvesse um geometrismo
perfeito. O arquitecto apenas definia o que era estritamente necessário.
Figura 6-
Planta elaborada por Le Corbusier
|
Citação de Le Corbusier
“A arquitectura é o jogo sábio, correcto e magnífico dos volumes dispostos sob a luz.”
As preocupações urbanísticas
Sendo que a
maior parte das cidades do século XX eram compostas por uma diversidade de
aglomerados, Le Corbusier e outros arquitectos e funcionalistas urbanistas
focaram-se na organização racional da cidade: no ano de 1928 foram feitos
debates acerca da arquitectura e do urbanismo, facto que levou à criação da Conferência Internacional de Arquitectura
Moderna (CIAM).
Depois desta
primeira conferência, várias se sucederam de forma a que se abordasse um tema
diferente em cada uma delas: em 1933 “A
Cidade Funcionalista”, orientada por Le Corbusier, mereceu total atenção.
Fruto das
bem sucedidas conclusões da conferência, foi criado um guia do urbanismo
funcionalista designado por Carta de Atenas, que tinha como
principais funções:
- Garantir “moradias
saudáveis” com “espaço, ar puro e sol”,
portanto habitar;
- Trabalhar
“organizar os locais de trabalho”;
- Criar condições para a “boa utilização das horas livres” para que se recrie o corpo e o espírito;
- Criar uma “rede circulatória”, ou seja função circular.
Ainda que
inicialmente estas funções fossem vistas sob um olhar demasiado racionalista, a
Carta de Atenas conseguiu impor todas as questões sociais no centro do
planeamento urbano.
O segundo Funcionalismo
Apesar de
todo o percurso feito pela arquitectura funcionalista, por volta da década de
30, esta começou a ser fortemente questionada e ser alvo de fortes acusações:
achavam-na demasiado rígida, de ter planos de edifícios sem qualquer personalização
que se assemelhavam a muros de betão armado compostos por filas de janelas
enormes.
Deste modo,
este novo estilo arquitectónico havia perdido a sua faceta inovadora, facto que
levou a que arquitectos da época apostassem num novo estilo arquitectónico mais
humanizado e racionalista: a
arquitectura orgânica.
Assim, Frank Lloyd Wright, um arquitecto americano que foi o principal fundador
deste novo estilo, desenvolveu diversos projectos que consistiam na harmonização
tanto da arquitectura como da natureza humana. Contudo, ainda que este novo
tipo de arquitectura fosse considerado um segundo funcionalismo, não seguia
sempre os princípios impostos no primeiro funcionalismo e tentava procurar uma
outra alternativa para um caso específico.
Segundo
Wright, a arquitectura orgânica “não nega
o funcionalismo mas liberta-se dos seus dogmas”. Com uma vertente mais
ligada ao Homem, este novo funcionalismo funde-se com a natureza possibilitando
uma conexão entre ambos.
Figura 7-
Casa Kaufmann (Falling Water) “congelada” de Frank Lloyd Wright
|
Fontes utilizadas:
Manual “O Tempo da História A” – 1ª Parte,
12º ano
Livro “Guia de estudo História A 12º ano” –
Porto Editora
Imagens – Google Imagens
Trabalho elaborado por:
Francisca Vasconcelos nº16
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