Apresentarei, ao longo deste post, as causas, consequências e implicações do desenvolvimento das economias destes países no mundo actual.
Estados Unidos da América
Embora se tenha envolvido nas duas
guerras mundiais, esta nação, durante o século XX, colheu mais benefícios que
prejuízos. Tal é explicado pela distância que os oceanos Pacífico e Atlântico
lhe imprimiam das frentes de batalha – mesmo perdendo 300 mil homens nas
frentes de batalha, as vítimas civis foram praticamente nulas; os centros industriais
do país não viram ocorrer ataques aéreos, assim como as produções agrícolas não
foram prejudicadas por bombardeamentos ou pelo avanço de exércitos.
Nos anos 80, o mundo assistiu à queda
dos regimes comunistas, à qual a URSS também não ficaria imune. Com isto,
estava aberto o caminho para os EUA se afirmarem como a única superpotência,
permitindo-lhes orientar o rumo de uma nova ordem internacional. Com efeito, apresentam,
no início do século XX, uma incontestada superioridade militar, uma próspera
situação económica e um forte e continuado desenvolvimento científico e
psicológico.
Supremacia militar
Enquanto a URSS se viu obrigada a
reduzir drasticamente os seus investimentos em armamento, o Japão não
considerava esta indústria prioritária e a União Europeia revelava dificuldade
em atingir um consenso sobre uma política externa comum, os Estados Unidos
revelavam uma série de factores que lhes conferiam a supremacia militar:
- Continuam a privilegiar os grandes
investimentos na indústria aeroespacial, bélica e electrónica, procurando
garantir a sua supremacia bélica, controlando exclusivamente o espaço.
- Perante alguns tratados que
procuram limitar a proliferação de armamento não convencional, adoptam uma
posição de resistência, não os assinando.
Ronal Reagen, 40º Presidente dos EUA |
- Dão continuidade à Iniciativa de
Defesa Estratégica, também conhecido como “Guerra das Estrelas” devido à popularidade do filme na época, de Ronald
Reagan, com o objectivo de manter o território americano protegido em casa
centímetro do seu território.
- Recusam-se a assinar o Protocolo de
Quioto, que entre questões ambientais, procura limitar o desenvolvimento da
indústria militar norte americana.
- Rejeitam submeter os seus militares
à acção do Tribunal Penal Internacional – tribunal a quem é atribuída a
competência de julgar os chamados crimes de guerra ou genocídios.
- Intervêm militarmente em diversos
locais do mundo, quer por iniciativa própria, quer integrando a NATO,
afirmando-se assim como os “polícias do mundo”, de que falarei de seguida.
- Desenvolvem intensos programas de
inovação tecnológica, com o objectivo primeiro de deslocar a guerra para fora
do seu território. Isto ficou conhecido como guerra electrónica pois era
suportada pelas armas mais poderosas da Terra e por uma vigorosa força aérea.
Nesta guerra contam-se tecnologias como o GPS, espionagem por satélite,
sistemas de orientação de mísseis balísticos por laser, potentes computadores…
Os polícias do Mundo
Seria de esperar que o fim da Guerra
levasse consigo as ameaças à paz e à cooperação entre nações. Mas tal não se
verificou pois, os americanos argumentando que o seu apoio tinha sido
fundamental na resolução dos dois conflitos mundiais, recusavam-se a tolerar
qualquer ameaça que viesse a por em causa os princípios que sustentavam a ONU,
principalmente se essa ameaça puser em causa os interesses do Ocidente e os
seus.
Nesse sentido, assiste-se ao aumento das sanções económicas cobradas aos
infractores – países onde os direitos humanos são violados, onde há repressão
política, apoio ao terrorismo ou agressões militares. Também a NATO, que à
partida perdia razão de existir com a queda do Pacto de Varsóvia, viu a sua
posição ser reforçada, até porque a ela se juntaram os antigos países da união
militar soviética.
É esta posição que justifica:
- o ataque na Líbia em 1986, onde se
alegava que Kadafi, o ditador libanês, apoiava o terrorismo internacional.
Afirmam que, um ataque realizado à bomba a uma discoteca de Berlim, nesse mesmo
ano, onde as vítimas foram soldados americanos, é obra do regime de Muamar
Kadafi. Esta operação, que apenas contou com o apoio do governo inglês de
Margaret Thatcher, ficou conhecida como El Dorado Canyon.
George Bush (pai), 41º Presidente dos EUA |
- a intervenção militar na guerra do
Golfo, em 1991. Desenvolveu-se a acção contra o Iraque por este ter ocupado o
vizinho Kuwait, violando o direito internacional. George Bush (pai), em Outubro
de 1990, justificou esta intervenção da seguinte maneira: “A agressão ao Golfo
Pérsico constitui uma ameaça não só para a segurança de toda uma região mas
também para as perspectivas do futuro mundial. Ela ameaça transformar o sonho
de uma nova ordem mundial num pesadelo onde reina a amargura e onde a lei da
selva substitui o direito internacional. (…) A vitória terá consequências duráveis:
o reforço das regras de conduta civilizadas nas relações internacionais, a
criação de um precedente em matéria de cooperação internacional.”
Bush escreveu ainda no seu diário sobre esta guerra:
“acabei de ler um relatório aterrador dos serviços secretos sobre o brutal
desmembramento e desmantelamento do Kuwait. Abatem-se a tiro cidadãos que
passam de carro e que se manda parar. Exportação de pouca comida que existe.
Casas vandalizadas. Destruição dos registos. Na prática, um Oásis transformado
num deserto árido. (…) Vi um paralelo arrepiante [no que os nazis fizeram à
Polónia] com aquilo que os ocupantes iraquianos estavam a fazer no Kuwait. Fui
muito atacado por causa desta comparação de Saddam com Hitler, mas continuo a
achar que ela fazia todo o sentido.”
Fica aqui um vídeo com algumas imagens da Guerra, a primeira a ser transmitida em directo na televisão:
-o lançamento da operação “Devolver a
Esperança”, levada a cabo na Somália, entre 1992 e 1994. Os americanos
procuravam distribuir alimentos e manter a ordem social, mas acabaram
humilhados pelos rebeldes somalis, a quem se dirigia a acção americana.
“Em Julho [de 1992] estavam a morrer de fome 5000 pessoas por dia na
Somália. Foi enviado de imediato apoio americano por mar e por ar e, em menos
de um mês chegaram à Somália 228 000 toneladas de cereais. Pelo menos metade
foi saqueado pelas facções somalis em guerra. (…)
Em finais de Setembro já tinham morrido de fome 300 000 somalis. Outros
milhares tinham sido mortos nas rivalidades entre facções. (…)
Para os Estados Unidos, que tinham planeado e dirigido as operações de
aterragem, a intervenção na Somália representava um envolvimento humanitário em
grande escala e um sinal ao mundo de que as forças armadas podiam ter outras
utilizações para além do combate.” Martin Gilbert, in História do século XX
- a intervenção militar, em conjunto
com a NATO, na ex-Jugoslávia, em 1999, acusada de violar os direitos do Homem
na acção de repressão sobre a população do Kosovo.
Em 1998, 75 países do Mundo estavam
mesmo ameaçados pelos Estados Unidos.
Bill Clinton, 42º Presidente dos EUA |
“Os Estados Unidos devem ter um papel
activo no rumo mundial, de forma a contribuírem para a manutenção da paz e da
estabilidade e para promoverem a democracia. (…) Não somos nem podemos ser os
polícias do mundo. Mas onde os nossos interesses e os nossos ideiais o exigem
(…) agiremos (…).” Bill Clinton, 1997.
O hiperterrorismo
A agressividade da política militar
americana, presente, por exemplo, na sua intervenção na Guerra do Golfo,
motivaram a violenta reacção de certos sectores da comunidade muçulmana
identificados com o fundamentalismo religioso. Consideram que ressurge a
Cruzada do Ocidente contra o Islão e, por isso, dedicam-se ao terrorismo
organizado contra os interesses americanos.
O momento mais marcante desta acção
muçulmana ocorreu a 11 de Setembro de 2001, quando a Al-Qaeda dirigiu com
sucesso 3 aviões contra símbolos de poder dos EUA – as torres gémeas do World
Trade Center e o Pentágono.
George W. Bush, 43º Presidente dos EUA |
Dias depois do atentado, mais
concretamente dia 20 de Setembro de 2001, George W. Bush profere as seguintes
palavras: “Esta noite, os Estados Unidos apresentam as suas exigências aos
talibãs. Entreguem às autoridades americanas todos os dirigentes da Al-Qaeda
que se escondem no vosso território. Fechem imediatamente e de forma
permanente, todos os campos de treino terroristas no Afeganistão e entreguem os
terroristas às autoridades competentes. (…) Estas exigências não estão sujeitas
a discussão ou negociação (…). Devotaremos todos os recursos de que dispomos
(…) à derrota do terrorismo mundial. (…) Cada país, em cada região, deve tomar
agora uma decisão. Ou está connosco, ou está com os terroristas. A partir deste
momento, todo o país que continue a pactuar ou a apoiar o terrorismo será
considerado pelos Estados Unidos como um regime hostil.”
Deu-se assim uma viragem decisiva na
política internacional, que sustentou a invocação da “pax americana”.
A “pax americana”
O terrorismo, que negava a
invulnerabilidade do território norte-americano, tornou-se a maior ameaça à
segurança internacional, desde a queda da URSS., Nesta medida o antiterrorismo
passou a ser o novo paradigma da política internacional dos EUA, definido na
Nova Estratégia de Segurança Nacional de George W. Bush.
Os americanos começaram por dividir o
mundo em dois: do seu lado, a liberdade e a democracia; do outro, o chamado
“Eixo do Mal”, o terrorismo.
George W. Bush define-o neste discurso, proferido em 2002: “[O nosso objectivo] é prevenir os
regimes que apoiam o terror de ameaçarem a América ou os nossos amigos e
aliados com armas e destruição massiva. Alguns destes regimes têm estado
bastante quietos desde o 11 de
Setembro. Mas sabemos a sua verdadeira natureza. A
Coreia de Norte é um regime armado com mísseis e armas de destruição massiva, enquanto esfomeia os seus cidadãos.
O Irão persegue agressivamente estes armados e exporta
terror, enquanto uns poucos não eleitos reprimem a vontade dos iranianos pela
liberdade.
O Iraque continua a mostrar a sua hostilidade por toda
a América e a apoiar o terror. O regime iraquiano planeou fabricar anthrax, gás de nervos e bombas
nucleares para matar milhares dos seus próprios
cidadãos (…). Este é um regime que tem algo a esconder do mundo civilizado.
Estados como estes, e os seus aliados terroristas,
constituem um Eixo do mal,
armados para ameaçarem a paz no mundo. Por procurarem armas de destruição
massiva, estes regimes são um perigo grave e crescente. Eles podem dar estas
armas a terroristas, dando-lhes os meios para combinarem os seus planos. Eles
podem atacar os nossos aliados ou tentar chantagear os Estados Unidos. Em
qualquer um destes casos, o preço da indiferença seria catastrófico.”
Tendo por base esta divisão, os EUA
anunciaram que:
- auto-reconhecem o direito de levar
a cabo acções de guerra preventiva contra estes países do “Eixo do Mal”, que
acusam de desenvolver planos de produção de armas de destruição maciça.
- não permitirão que nenhum país
diminua a sua dianteira militar, a maior de todas, principalmente desde a queda
da URSS.
- expressam um compromisso de
cooperação internacional multilateral, de forma a travar e combater ao máximo o
terrorismo internacional.
- Declaram o objectivo de disseminar
a democracia e os direitos humanos em todo o mundo, principalmente no mundo
muçulmano.
Os gastos com a defesa aumentaram consideravelmente ao longo dos anos. |
Estes pressupostos que constroem a
Doutrina Bush, justificam uma série de acções como: a invasão do Afeganistão,
em 2001, com o pretexto de encontrar Osama Bin Laden, destruir a Al-Qaeda e
remover o regime talibã do poder; a invasão do Iraque, em 2003, afirmando que
lá se fabricavam armas de destruição maciça, que acabaram por nunca se
encontrar, no entanto, esta operação culminou na destituição de Sadam Hussein;
denúncia dos programas nucleares da Coreia do Norte e do Irão.
Segue-se um vídeo sobre a guerra do Iraque, que, embora não seja totalmente imparcial, contém imagens e dados que merecem destaque:
Muitas vezes, os argumentos
americanos foram tidos como ilegítimos pela comunidade internacional, tornando
estes processos bastante conturbados e alimentando as hostilidades. Francis
Fukuyama, critica mesmo a invasão do Iraque: “(…) Os mortos iraquianos, em
resultado da ocupação americana e da insurreição que se seguiu, cifram-se nas
dezenas de milhares; apesar de ser provável que, se Saddam Hussein tivesse
permanecido no cargo tivessem continuado os abusos sobre os iraquianos, a
verdade é que baixas deste nível num país que estamos a tentar ajudar
representam um custo humano atroz.”
Também Eric Hobsbawm, um dos historiadores mais reputados do nosso tempo,
critica a posição americana: “Assiste-se a um clima de medo irracional. A
política corrente dos Estados Unidos tentou revitalizar os terrores
apocalípticos da Guerra Fria, quando aqueles já não têm qualquer
plausibilidade, inventando «inimigos» que legitimem a expansão e uso do seu
poder global.”
Barack Obama, 44º Presidente dos EUA |
A eleição de Barack Obama, no último
mês de 2008, trouxe um entusiasmo espectacular, evidenciando a esperança de
mudança. Mas, em Janeiro de 2009, Barack Obama fez ouvir as seguintes palavras:
“(…) Com velhos amigos e antigos inimigos, vamos trabalhar incansavelmente para
diminuir a ameaça nuclear e afastar o espectro do aquecimento do planeta. Não
vamos pedir desculpa pelo nosso modo de vida, nem vamos hesitar na sua defesa,
e àqueles que querem realizar os seus objectivos pelo terror e assassínio de
inocentes, dizemos agora que o nosso espírito é mais forte e não pode ser
quebrado; não podem sobreviver-nos, e nós vamos derrotar-vos.”
Prosperidade económica
Como sabemos, a conjuntura económica
americana é marcada pela livre iniciativa e da livre concorrência e pela
presença quase nula do Estado na regulamentação da actividade económica, assim
como pouco são notadas as restrições à livre circulação de mercadorias e
capitais.
O fim da 2ª Guerra Mundial tornou esta
nação na potência líder da recuperação da economia mundial. Em 1945,
controlavam 50% da produção industrial e no seu banco central concentravam dois
terços das reservas mundiais de ouro. Estes valores provam a sua hegemonia como
potência económica.
Já em finais dos anos 70,
transformaram-se na primeira sociedade de abundância. Era também o tempo do
novo capitalismo industrial, marcado pela permanente inovação tecnológica, que
alimenta esta sociedade, e pela incrível eficácia de resposta do sistema
produtivo.
Os anos 80 foram marcados pelas
medidas neoliberais de Reagan (1981-89) e Bush (1989-93), com o objectivo de
dinamizar o processo produtivo e de consolidar a hegemonia económica norte americana.
Destacam-se as seguintes medidas:
- Redução da carga fiscal e dos
encargos com a segurança social.
- Atenuação das restrições aos
despedimentos e à deslocação de mão-de-obra excedentária.
- Utilização da força de trabalho
precário e de mão-de-obra barata.
- Avultados investimentos em
tecnologia de ponta, procurando diminuir os custos de produção ao mesmo tempo
que se aumenta a produtividade.
- Vulgarização do recurso ao crédito,
como forma de reduzir o tempo que decorre entre o investimento e o usufruto dos
consumidores.
- A política de valorização do dólar
e a insistência na livre circulação financeira, com o objectivo de atrair
capitais estrangeiros.
- O estabelecimento de relações
políticas privilegiadas com países da região do Golfo, com o objectivo de
controlar a produção e fornecimento de petróleo através de uma forte presença
militar.
- A expansão do mercado externo para
regiões em vias de desenvolvimento, tendo em vista a exploração das suas
potencialidades para aproveitamento do baixo custo da mão-de-obra e das
matérias-primas locais.
Bill Clinton, que chega à Casa Branca
durante um período de recessão económica, procura revitalizar a economia
americana através da via comercial. Nesse âmbito, fomentou as relações
comerciais com o Sudeste asiático, no âmbito da APEC (Cooperação Económica
Ásia-Pacífico), numa tentativa de contrariar o predomínio comercial da Europa,
que acabou por se constituir como um possante bloco económico. Do mesmo modo,
impulsionou a criação do NAFTA (North American Free Trade Agreement) – um
instrumento de integração das economias do Canadá e México nos interesses
americanos, permitindo a livre circulação de capitais e mercadorias entre eles.
As economias mexicana e canadiana acabaram por beneficiar deste acordo, mas, em
contrapartida, a sua dependência dos EUA aumentou consideravelmente: no Canadá,
três quartos do comércio externo era realizado com esta superpotência, enquanto
que, no México, em 2001, 81% das relações comerciais com o exterior eram feitas
com os EUA.
Ainda se procurou criar uma área de
Livre Comércio das Américas (ALCA), devendo esta concluir-se em 2005. Este
projecto, que originaria a maior área de comércio livre do mundo, acabou por
não se realizar pois várias organizações latino-americanas receavam tornar-se
cada vez mais dependentes dos Estados Unidos.
De qualquer das maneiras, o quadro
ideológico e institucional dos Estados Unidos conferiu-lhe o título de maior
economia do mundo. Assim, “quando a economia americana espirra, a economia
mundial constipa-se”.
A sua terciarização é tão forte que,
para além de alimentar o seu mercado interno, onde os serviços são responsáveis
por 70% do PIB, e de empregar 75% da população, exporta os seus serviços para
todo o mundo – 20% do total mundial.
O sector primário não foi, de maneira nenhuma, abandonado.
Presenteados com importantes investimentos para a modernização técnica e
cientifica da agricultura, os EUA tornaram-se no maior exportador mundial de
produtos agrícolas, concorrendo com a União Europeia. Até as grandes empresas
como a Boeing e a Coca-Cola são detentoras de gado e pomares de citrinos,
respectivamente.
Há ainda uma grande ligação entre a
agricultura e a indústria – há um verdadeiro complexo agro-industrial que, no
início do presente século, empregava mais de 20 milhões de trabalhadores e
representava 18% do PIB americano.
Sun Belt |
No que diz respeito à indústria em si, foi o sector que
registou a maior evolução na segunda metade do século XX. As indústrias de alta
tecnologia e o seu dinamismo vieram retirar protagonismo às velhas indústrias
que representaram a segunda Revolução Industrial, caindo consigo a
Manufacturing Belt. Surge agora o Sun Belt, uma extensa faixa do sudoeste onde
o clima é bastante agradável, onde a sua situação geográfica facilita contactos
com o Pacífico e também com a América Latina, para onde deslocam algumas
empresas em virtude da sua barata mão-de-obra.
Este sector da economia americana compete
principalmente com a economia da Ásia-Pacífico, de que falarei mais adiante.
Dinamismo científico e tecnológico
Os anos 50 marcam o início de uma
viagem de descobertas e inovações que se sucedem a um ritmo acelerado e
contínuo. Assim nasceu a terceira Revolução Industrial.
Silicon Valley acolhe, actualmente, imensas empresas relacionadas com as novas tecnologias, como é possível ver na imagem. |
Os EUA disponibilizam um tão grande
número de verbas, que, na sua totalidade, ultrapassam, em conjunto, os
investimentos dos restantes países desenvolvidos, nomeadamente do G8. É graças
a estes investimentos na investigação cientifica e tecnológica que: se assiste
à massificação do computador pessoal e da Internet, que, em conjunto
revolucionaram não só a economia norte americana mas todos os sectores da nossa
vida quotidiana; à proliferação de parques tecnológicos, onde se articulam
pesquisas científicas com a sua aplicação por empresas que privilegiam a
tecnologia. Exemplo disso são a IBM e a Lockhead, por exemplo, que se
deslocaram para o Silicon Valley no Sun Belt, para junto da universidade de
Stanford, considerada a melhor da América, com o objectivo de estreitar
relações de cooperação na investigação e descoberta.
A General Motors, antiga imagem da
prosperidade americana, acabou por ser substituida pela famosa Microsoft de Bill
Gates, em mais uma manifestação do poder da tecnologia.
Nasceu assim a “economia digital” ou
“nova economia”, que rapidamente se expandiu por todo o mundo graças a novos
empreendedores que exportam o know-how que sustenta esta nova realidade.
União Europeia
A necessidade de construir uma Europa
unida culminou na criação da CECA, que, com o Tratado de Roma, em 1958 (ano em
que entra em vigor, embora tenha sido assinado no ano anterior), evoluiu para a
CEE. Assim, em 1973, já eram 9 os seus membros, mas o último quartel do século
XX iria assistir a importantes mudanças, nomeadamente na integração das novas
democracias da Europa do Sul e na consolidação das relações entre todos os
estados-membros.
O Tratado de Roma afirmava que
qualquer nação europeia tinha o direito de reclamar a sua adesão à Comunidade
Europeia, bastando-lhe cumprir uma série de parâmetros onde se contam: um
sólido equilíbrio financeiro, um considerável desenvolvimento económico e
social, o reconhecimento dos direitos humanos e a consolidação da democracia
pluralista.
Só durante os anos 70 é que, os
países da Europa do Sul, nomeadamente Grécia, Portugal e Espanha, passam a preencher
os pré-requisitos, pois, é quando se tornam estados inteiramente democráticos.
A Grécia integrou a CEE em 1981, e Portugal e Espanha formaram a Europa dos
Doze, em 1986. A entrada destes países para a CEE constituiu o primeiro grande
desafio, uma vez que eram países extremamente atrasados e exigiram a
canalização de avultadas verbas, para que estes se desenvolvessem.
“Os governos
dos membros da CEE, começaram por ficar embaraçados com as candidaturas
espanhola e portuguesa, apresentadas em 1977, numa altura em que a crise
económica começava a fazer-se sentir em pleno. Todavia (…) os Nove
compreenderam duas coisas: por um lado, apesar dos obstáculos económicos
certos, não tinham escolha; por outro, era-lhes impossível fechar a porta às
três novas democracias da Europa meridional; (…) Por uma simples questão de
dimensão a integração de Espanha coloca dificuldades de maior amplitude que as
da Grécia e Portugal. Relativamente a este último, o desafio maior é a sua
pobreza (…).” Philippe Lemaitre, em Le Monde, 31 de Maio de 1979.
Em 1974, foi criada a FEDER – Fundo
Europeu de Desenvolvimento Regional – complementado mais tarde com o Fundo de
Coesão, destinado a investir nos transportes e no ambiente. Portugal, Espanha,
Irlanda e Grécia foram os que mais beneficiaram deles.
Jacques Delors |
Entretanto, enquanto a Comunidade
Europeia se alargava, ia criando um conjunto de instituições para reforçar o
projecto europeu. Mas é graças a Jacques Delors, novo presidente da Comissão
Europeia, a partir de 1985, que o processo deixa a estagnação e ruma ao avanço
para a criação e consolidação das instituições que haviam de dar forma à União
Europeia.
Os acordos de Schengen foram assinados pelos governos de França,
Alemanha, Bélgica, Luxemburgo e Holanda, em Junho de 1985, com o objectivo de
criar entre si um espaço sem restrições à circulação de pessoas. Para isso
propunham a criação de uma fronteira externa única, onde seriam abolidos todos
os controlos fronteiriços internos, e o estabelecimento de medidas de salvaguarda
da segurança dos cidadãos.
À medida que a Europa se ia
alargando, esta cooperação intergovernamental foi evoluindo. Em 1997, ano em
que se assina o Tratado de Amesterdão, todos os países da União Europeia estão
integrados no espaço Schengen (exceptuando a Irlanda e o Reino Unido, mais a
Noruega e a Islândia, que não integram a União). Por esta razão, as decisões
tomadas em 1985 pelos membros do espaço Schengan seriam confirmados como mais
um fundamento institucional da União Europeia.
Estes acordos, mais concretamente,
ditavam:
- As condições de entrada de
estrangeiros, não pertencentes aos países comunitários, no espaço Schengan e de
circulação pelas fronteiras internas dos estados-membros;
- A harmonização de políticas
relativas à concessão de vistos de entrada e de asilo;
- O reforço da cooperação entre os
sistemas policiais e judiciários dos países membros, visando o combate ao
terrorismo e ao crime organizado.
Procurando dar continuidade às
políticas de união europeia e ambicionando uma maior coesão e solidariedade,
foi assinado, em 1986, o Acto Único
Europeu. Com este, foi possível proceder-se a uma revisão dos tratados
fundadores das primeiras comunidades europeias, ou seja, o Tratado de Paris (de
onde surgiu a CECA, em 1951) e os Tratados de Roma (que instituiu a CEE e a
EURATOM, em 1957).
Jacques Delors fez publicar um Livro
Branco, que enumerava as medidas a tomar e respectivos prazos. Também
encomendou um estudo sobre os custos da “não-Europa”, publicado em 1988, que
concluiu que a médio prazo os ganhos dos Doze se situariam entre os 4 e os 7%
do PIB comunitário.
Na prática, o Acto Único Europeu veio
reforçar o carácter supranacional dos órgãos do governo comunitário, que os
anteriores tratados já tinham instituído, e contribuir para a aceleração da
união económica da Europa. No seu âmbito consagrou-se juridicamente o Conselho
da Europa como o organismo responsável pela definição das orientações políticas
de carácter geral. Ao Parlamento Europeu passou a competir a discussão e
aprovação das matérias de interesse comum relativas a aspectos da vida
económica, social, cultural e política de cada país. É também projectada a
total abolição, até o fim de 2002, das fronteiras internas à circulação de
pessoas, mercadorias, serviços e capitais com o objectivo de alcançar o tão
desejado mercado único. Procurou instituir uma moeda única, através do
estabelecimento de medidas para coordenar a política económica e monetária. Aprovou-se
a reforma dos fundos estruturais e de coesão, criados para reduzir discrepâncias
nos níveis de desenvolvimento dos estados-membros e conseguir uma maior coesão
económica e social. Por fim, aprovaram-se diversas medidas para fomentar o
respeito pelos direitos sociais da população, o desenvolvimento da investigação
e inovação tecnológica e a protecção do meio ambiente.
Em Dezembro de 1992, assina-se o Tratado da União Europeia, também
conhecido como Tratado de Maastricht. Entrando em vigor no ano seguinte, volta
a fazer alterações nos tratados, principalmente no Acto Único Europeu. É também
este Tratado que institui oficialmente o nome de União Europeia.
Com este tratado são também
instituídos três pilares fundamentais que devem estruturar a União Europeia.
O 1º pilar dá relevo ao sector económico e social, sendo “a CEE –
pedra angular da construção europeia – aquela que apresenta, no Tratado da
União Europeia, maiores e mais profundas alterações”. É dentro deste pilar que
assistimos ao alargamento da intervenção da Comunidade Europeia em novos
domínios como a educação, a cultura, a saúde, a protecção dos consumidores e
outros. Também é graças a ele que se assiste a um reforço da cooperação entre
estados-membros para o desenvolvimento, mantendo-se as preocupações com a
tecnologia e o seu desenvolvimento, com a qualidade de vida dos cidadãos e,
cada vez mais, com o ambiente. Também a preocupação com a protecção social dos
trabalhadores é de destaque, salientando-se um protocolo que põe em prática a
Carta Comunitária dos Direitos Sociais Fundamentais dos Trabalhadores, aceite
em 1989. Quanto às questões de atraso económico, onde se inserem países como a
Grécia, Espanha e Portugal, há a procura do reforço da coesão económica e
social. A noção de cidadania europeia assiste a uma ampliação, passando a
considerar-se direito dos cidadãos comunitários o direito de votar e ser eleito
em eleições locais e europeias, o direito de protecção diplomática por qualquer
país comunitário, o direito de petição directa ao Parlamento Europeu, direito
ao acesso ao provedor de Justiça comunitário. Surge ainda e por fim, a UEM –
União Económica e Monetária – substituta do Sistema Monetário Europeu (SME)
criado em 1979. Do mesmo modo que é criada a UEM, definem-se os prazos do
processo de conversão da unidade monetária de referência, criada como elemento
central do sistema – o ECU (European Currency Unity), numa moeda única que
viria a ser o euro.
O 2º pilar integra a política externa e de segurança comum – PESC. O
desejo de representar todos os países comunitários numa só voz motiva a procura
de uma acção comum. No entanto, há a necessidade de ter em conta todos os
pontos de vista de cada estado e também de ter em atenção as suas vocações
históricas, por isso, as orientações gerais comuns a todos os estados-membros
serão dadas pelos chefes de Estado e de Governo, que devem considerar a vontade
da maioria qualificada superior, ou seja, exige-se a concordância de pelo menos
8 estados-membros.
O 3º pilar refere-se à cooperação nos assuntos internos e de justiça.
Perante os crescentes desafios da criminalidade e do terrorismo organizado, as
pressões migratórias e a abolição dos controlos nas fronteiras internas, a
cooperação torna-se imperativa. É neste âmbito que se preconiza o
estabelecimento de uma política de concessão de vistos, de harmonização das
políticas de asilo e o desenvolvimento da cooperação policial, criando-se a
EUROPOL – sistema de intercâmbio de informações de índole criminal.
O Tratado de Amesterdão, assinado em 1997 e, entrando em vigor dois
anos depois, embora tenha dado continuidade aos anteriores tratados, deu
particular atenção ao problema da disciplina orçamental, fundamental para o
perfeito funcionamento da União Económica e Monetária.
Para isso, foi criado o PEC – Pacto
de Estabilidade e Crescimento –, que assiste ao comprometimento, de todos os
estados-membros, em promover as medidas necessárias para que, a médio prazo, se
resolvam problemas relacionados com:
- o défice público, que não deve
exceder 3% do PIB;
- a dívida pública, que não pode ser
superior a 59% do PIB;
- a taxa de inflação, que não deve
ultrapassar em 1,5% a taxa de inflação média dos três estados-membros com
melhores resultados.
Banco Central Europeu |
É também criado o Banco Central
Europeu – BCE – com o objectivo de coordenar a política económica e monetária
da EU. Os países comunitários abdicam de um pedaço da sua soberania e
identidade em prol do ideal da Europa unida.
Em relação à actual moeda europeia, é
também no seio deste tratado que são esclarecidos os critérios necessários à
criação do euro, que entraria em circulação no primeiro dia de 2002.
O Tratado de Nice, que entra em vigor em 2003, é a 4ª revisão
constitucional aos antigos tratados. Contam-se muitas novidades relativas à
organização e funcionamento das instituições comunitárias, mas o destaque é o
Protocolo de Ampliação da União Europeia. Esta ampliação está presente no
alargamento do espaço comunitário aos países da Europa de Leste. Em 1995 já
haviam aderido a Finlândia, a Suécia e a Áustria, mas agora, com a integração
dos países da antiga “cortina de ferro” – República Checa, Polónia, Letónia,
Estónia, Lituânia, Hungria, Eslovénia e Eslóvaquia – e de dois pequenos países
– Malta e Chipre – estava formada a Europa dos 25. 1 de Maio de 2004, torna-se
assim uma das datas de mais destaque na história da Europa como comunidade.
Embora se visse este alargamento com receio, este países reuniam os
critérios de adesão definidos na Cimeira de Copenhaga (1993):
“- Dispor de instituições estáveis que garantam a democracia, o primado
do direito, os direitos do Homem, o respeito pelas minorias e a sua protecção;
- Dispor de uma economia de mercado perdurável e capaz de enfrentar a
pressão concorrencial e as forças do mercado no interior da União Europeia;
- Dispor de instituições capazes de assumir as obrigações da adesão à União
e da adopção e aplicação do adquirido comunitário e de subscrever os objectivos
da União política, económica e monetária”.
“Os alargamentos anteriores,
fizeram-se lentamente e com precaução (…). Desta vez, a decisão abrange dez
países, quase todos tendo atrás de si meio século de pertença à «outra Europa»
(…). O alargamento de 2004 não é como os outros: é o resultado da queda do muro
de Berlim, do fim da Guerra Fria e da reunificação da Alemanha. (…) No
horizonte do alargamento de 2004 desenha-se a unificação da Europa através do
reencontro do Ocidente e do Oriente. (…) Devemos considerar a necessidade de o
Leste alcançar o Ocidente como um dos mais formidáveis desafios da história
moderna do nosso continente.” Bronislaw Geremek, historiador e político polaco,
30 de Janeiro de 2004.
Em 2007, a Europa assiste a um novo
alargamento onde surgem a Roménia e a Bulgária. Apenas a Turquia tem visto a
sua integração adiada por várias razões, sendo um assunto envolto em polémica.
Dificuldades
Embora um processo demorado,
complicado e cheio de impasses, a concretização do 1º pilar da UE é uma
realidade incontestável, principalmente a partir do momento em que o euro começa
a circular. Já os outros dois pilares e a sua concretização espelham as
dificuldades de cooperação entre os membros da comunidade europeia.
No que concerne à política, o principal problema reside
na resistência à perda de soberania. As nações europeias revelam-se orgulhosas
do seu passado histórico, repleto de conquistas e de notáveis desenvolvimentos,
aos quais se recusam renunciar. O Reino Unido, a Suécia e a Dinamarca são os
exemplos mais notáveis pois, ao contrário dos restantes países comunitários,
não aderiram à moeda única. No entanto, o Reino Unido destaca-se por ser o
estado-membro que mais rejeita a ideia de uma Europa unida. Embora tenha
sentido a necessidade de participar nesta união, não se identifica com o
projecto, bloqueando várias vezes o funcionamento da Comunidade.
Ao mesmo tempo, o eurocepticismo
aumenta por toda a Europa, sobretudo após os Tratado da União Europeia. Estes
eurocepticos mostram-se desconfiados e descrentes na União Europeia, defendendo
que o modelo económico-social europeu se encaminha para uma federalização dos
Estados-membros da União. Por isso, defendem a soberania nacional e a
independência nas decisões por parte das instituições próprias de cada nação.
Por outro lado, o facto de se
integrarem países com culturas, passados culturais e políticos diferentes da
tradição ocidental dificulta a cooperação e a criação de uma Europa unida. São
exemplo os países situados na parte oriental da “cortina de ferro”.
No campo da economia, o problema do desemprego crescente (10% da população
activa em 1997), de grande destaque entre outros, dificulta o desenvolvimento
de um sentimento europeísta. Prova de tal, é a abstenção nas eleições para o
Parlamento Europeu, a resistência à adopção de uma política externa comum, de
que as discordâncias em relação à intervenção militar no Iraque, em 2003, dão
provas, e a controvérsia em volta do projecto de Constituição Europeia e
respectivas medidas tendentes à consolidação da união política.
O sentimento europeísta. |
Para resolver alguns dos problemas
que os tratados não conseguem, lançou-se, em 2002, a Convenção para o Futuro da
Europa, que pretendia: “aproximar os cidadãos do projecto europeu e das
instituições europeias; estruturar a vida política e o espaço público europeus
numa união alargada; fazer da União um factor de estabilização e uma referência
na ordem mundial". Desta Convenção surge um projecto de constituição
europeia que previa, por exemplo, criar o cargo de ministro dos Negócios
Estrangeiros da Europa e o prolongamento do mandato do Conselho Europeu. Procurando
dar um rosto à UE, e dividido entre olhares de esperança e controvérsia, acabou
por ser rejeitado pela França e pela Holanda. Isto acaba por provar que o facto
de a ratificação de projectos ser dependente da consulta popular através de
referendo, faz com que o sucesso de tais projectos caia na incerteza.
Em 2007, o tratado reformador da
Constituição europeia – Tratado de
Lisboa – que entraria em vigor em 2009, confirma a dificuldade de acordo
entre os estados-membros. Na Irlanda, a sua ratificação foi recusada. E, nos
outros países, embora ratificado ou em vias de tal, as dúvidas em seu torno
revelam-se profundas. Por exemplo, na Alemanha, a legalidade do tratado
continua a ser muito contestada pelos partidos da oposição ao Governo da
chanceler Angela Merkel. Esta contestação acabou por levar o tratado à
apreciação do Tribunal Constitucional, alegando que este roubava competências
ao Parlamento nacional. Já na República Checa, o atraso e polémica em torno da
sua ratificação foi justificado pelo facto de considerarem que este reforça o
peso dos grandes países em detrimento dos pequenos.
Ásia-Pacífico
“Primeiro foi o milagre económico
japonês. Depois o rápido crescimento dos pequenos dragões (Hong Kong, Coreia do
Sul, Taiwan e Singapura). Mais recentemente a emergência dos países da Asean
(Associação das Nações do Sudeste Asiático), em particular a Tailândia Malásia
e Indónesia. Agora chegou a vez da China (…). As previsões são claras: entre
1990 e o ano 2000 o PNB da Ásia duplicará! Bem-vindos ao século asiático.”
Revista Exame, Maio de 1994.
Ao lado do Japão, que já tinha
assistido a uma milagre, como nos diz o documento, a partir dos anos 70, outros
países do Este e Sudeste da Ásia emergem e abraçam a industrialização,
alimentando um magnífico crescimento económico.
Os Dragões Asiáticos
Coreia do Sul, Hong Kong, Singapura e
Taiwan, países com pobreza em recursos quer naturais, quer energéticos, sem
qualquer tradição industrial, superpopulados e sem capitais, avançam para um
processo de desenvolvimento económico surpreendente, baseado na produção e
exportação de bens de consumo.
Conseguida a estabilidade política,
apostam numa direcção centralizada da economia e arrancam em direcção à
modernização e desenvolvimento económico, seguindo o modelo japonês como
exemplo.
“(…) os economistas na Ásia Oriental
evocam a imagem dos «gansos voadores», com o Japão no papel de pássaro da
frente, seguido pelos NPI da Ásia Oriental, pelos maiores Estados do Sudeste
Asiático, etc.
O que o Japão produziu numa década (…)
será imitado pela próxima vaga de «gansos»” Paul Kennedy, 1993 – Desafios para
o século XXI
Japão, o novo "professor" das novas economias asiáticas |
Assim, assiste-se a uma forte
intervenção do Estado na economia, que cria linhas de crédito e incentivos às
empresas nacionais, adopta políticas proteccionistas e de estímulo ao trabalho,
lança programas de educação e formação de modo a qualificar profissionalmente a
população – em 1990, 80% dos jovens de 18 anos da Coreia do Sul e 85% dos de
Taiwan estavam plenamente integrados no sistema educativo. Por outro lado, a
mão-de-obra abundante, esforçada, conformista, extremamente poupada e
disciplinada disponibiliza-se para trabalhar a baixo custo e durante longas
jornadas, tornando o arranque destes países mais rápido e barato.
A aposta na educação |
Os sectores que recebem mais atenção
e investimento são a eletrónica e os têxteis. A aposta neles justificou-se, uma
vez que os mercados internacionais foram invadidos por uma avalanche de
produtos a preços imbatíveis. Em 1976, o Japão e os Novos Países
Industrializados produziam 60% dos produtos manufacturados consumidos em todo o
mundo.
Com as receitas deste investimento
inicial, a Coreia do Sul optou por concorrer com o Japão, apostando nos
sectores automóvel e de construção naval. Já os restantes “Dragões” optaram
pela produção de componentes electrónicos de alta tecnologia.
Os “Tigres Asiáticos”
Nos anos 80, os “Dragões” conhecem os
seus novos companheiros de desenvolvimento – Malásia, Tailândia, Indonésia e
Filipinas. Os “Tigres” devem então o seu desenvolvimento à necessidade de
países como o Japão, em adquirirem produtos como matérias-primas, recursos
energéticos, nomeadamente o petróleo, e bens alimentares. Assim, concluo que o
arranque de desenvolvimento destes países acaba por ser uma consequência do
desenvolvimento do primeiro grupo de países que, face ao abrandamento da
economia ocidental após o choque petrolífero de 1973, tiveram de se voltar para
o mercado do Sudeste Asiático, que passou a crescer de forma integrada.
Os problemas de forte dependência
face às economias estrangeiras, o abrandamento da economia ocidental, que teve
repercussões nos seus mercados, e a forte competição entre os próprios países
asiáticos, levou a que se juntassem à ASEAN – Associação de Nações do Sudeste
Asiático – nascida em 1967, acaba por se afirmar como um novo espaço económico,
onde os novos países industrializados, ou seja, os “Dragões” e os “Tigres”,
passam a concorrer com os habituais pólos de desenvolvimento – os EUA, a Europa
e o Japão.
“Nós, os chefes de Estado/Governo da
Associação das Nações do Sudeste Asiático, reunimos hoje em Kuala Lumpur para
(…) promover a cooperação no Sudeste Asiático dentro de um espírito de
igualdade e fraternidade, contribuindo assim para a paz, progresso e prosperidade
da região. (…)
Somos actualmente um mercado de cerca de 500 milhões de pessoas com um PIB
combinado de 600 milhares de milhão de dólares. Conseguimos resultados
consideráveis no campo económico, estabilidade e uma significativa diminuição
da pobreza nos últimos anos.” Kuala Lumpur, 15 de Dezembro de 1997.
No entanto, como em tudo, também
se contam pontos negativos. Este crescimento, que lançou o Sudeste Asiático no
mercado mundial, teve custos ecológicos e sociais. O continente asiático
tornou-se o mais poluído do mundo e a sua mão-de-obra é conhecida por ainda se
manter pobre e explorada.
China
Deng Xiaoping |
Após a morte de Mao Tsé-Tung, em
1976, inicia-se um período político conturbado e complexo, que só terá fim com
Deng Xiaoping. Este lança um conjunto de reformas pró-capitalistas quer na agricultura,
quer na indústria, com o intuito de, a longo prazo, as desenvolver e abrir a
economia ao exterior.
Na agricultura, o primeiro passo passou por descolectivizar as terras,
entregando-as aos camponeses em regime de arrendamento a longo prazo.
Por outro lado, a abundante mão de
obra não obrigou a uma profunda modernização deste sector e das técnicas nele
empregues. No entanto, como a privatização das terras, realizadas numa primeira
fase, implicaram o ganho de liberdade de comercialização dos excedentes de
produção e de apropriação dos lucros que dessa comercialização advêm,
assiste-se a um crescimento dos níveis de produtividade incríveis – durante os
cinco anos que se seguiram ao arranque de Xiaoping, a produção agrícola
registou um aumento de 50%.
A indústria foi quem mais sentiu os efeitos dos programas de
modernização económica da China. Deng Xiaoping entendeu que o caminho da
prosperidade não passava essencialmente pela indústria pesada, mas sim pelos
produtos de consumo e têxteis, que se destinariam à exportação.
Como a China e o seu regime se
identificam com os ideais comunistas, era necessário concilia-los com aa
mentalidade e práticas capitalistas. É neste sentido que surge a sua inovadora
estratégia – o socialismo de mercado. Esta consistiu na criação, em 1980, de
quatro Zonas Económicas Especiais – Shenzhen, Zuhai, Shantou e Xiamen -
totalmente abertas à instalação de indústrias apoiadas em investimentos
estrangeiros e com total liberdade para efectuar trocas com o exterior. Estas
zonas tiveram tanto sucesso que se estimulou a criação de mais uma zona livre
na ilha de Hainan e a criação de 14 cidades cidades portuárias, onde às
empresas era dada a oportunidade de negociar livremente e onde eram permitidos
investimentos estrangeiros, embora em patamares inferiores aos das zonas
económicas especiais.
“As zonas costeiras, com as chamadas
áreas económicas especiais, são a cabeça do dragão chinês – 90% do investimento
estatal está aí concentrado. (…)
As grandes marcas, como a Gucci, a
Ferragamo, a Hugo Boss e a Versace, já se mudaram para Zhejiang.” Reportagem de
Catarina Carvalho, para o jornal Expresso, 2005.
Esta primeira fase espelha a aposta
no investimento do desenvolvimento e liberalização do litoral. Mas, numa fase
posterior, embora Deng Xiaoping desejasse manter o interior resguardado da
influência externa, o capital estrangeiro acabou por lá chegar, onde a mão de
obra era muito barata.
Isto acabou por se traduzir positivamente
na economia chinesa. Em 2005, embora o sector manufactureiro representasse mais
de um terço da economia, a China não deixou de investir na alta tecnologia,
sendo prova disso um dos maiores parques industriais do mundo pertencer-lhe. Em
resultado, os automóveis, por exemplo, espalharam-se por todo o Ocidente.
Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o facto de ter um
crescimento médio de 9,4% desde 1979, confere-lhe o lugar de sexta maior
economia do mundo e, se esta taxa se mantiver, pensa-se que em três ou quatro
décadas o seu produto ultrapassará a actual superpotência mundial – os EUA. No
comércio internacional a sua evolução apresenta números impressionantes – de
1980 para 2001 o comércio externo chinês aumentou de 18% para 43% de expressão.
Em 1992, a Bolsa de Valores de Xangai
entra em funcionamento, alargando a liberalização ao sector financeiro.
Mas, para toda esta modernização
económica de que os números apresentados dão conta obrigaram a que a China
estabelecesse algumas relações diplomáticas com blocos capitalistas.
A plena integração da China no
mercado asiático acabou por motivar a formalização da paz com o Japão, em 1978,
pois estes, desde 1931, aquando da invasão da Manchúria, assistiram à
hostilização das suas relações, tendo estas sido agravadas com os conflitos da
Segunda Guerra Mundial.
O ano seguinte assistiu à aproximação
dos EUA, que haviam sido interrompidas desde 1949, ano em que triunfara a
revolução comunista no território chinês.
Entretanto, já tinha sido admitida na
ONU em 1971. Mas não se ficou por aí, tendo integrado as instituições
económicas e financeiras: FMI e Banco Mundial, em 1980; a sua candidatura ao
GATT é aceite em 1986; OMC, em 2001.
“A China é, obviamente, um temível
competidor. Desde 1990 as suas exportações cresceram 13 vezes. O PIB
quintuplicou. Recebe 1,5 mil milhões de dólares de investimento estrangeiro por
semana. Dentro de 20 anos, deverá ser a maior economia do mundo, com a dos
Estados Unidos em segundo, a da Índia em terceiro, enquanto a UE se irá
secundarizando.
Os erros de percepção no Ocidente são
quase caricatos. Imagina-se uma China em que se trabalha numa pocilga a colar
sapatos. Contudo, a maioria das actuais indústrias exportadoras usa tecnologia
avançada. (…) Em 2003, a China ultrapassou a UE e o Japão na exportação de
tecnologias da informação. Em 2004, ultrapassou os EUA e é, agora o maior
exportador mundial dessas tecnologias cruciais no século XXI.” Pedro Jordão, As
Ameaças Chinesas, em revista Visão, 15 de Junho de 2006.
Hong Kong e Macau vieram reforçar esta posição económica uma vez que são actualmente dois
territórios integrados na China. O facto de serem zonas económicas e
administrativas especiais, porque se encontravam sob governo inglês e português
respectivamente, torna-as perfeitas para serem integradas no território,
segundo as reformas de Deng Xiaoping. Assim, iniciam-se as negociações nesse
sentido. Exigia-se a manutenção do sistema político, económico e financeiro,
social e cultural, por um período de 50 anos, apoiando-se no príncipio “um
país, dois sistemas”. Assim, Hong Kong passa a ser integrado na soberania
chinesa a 1 de Julho de 1997 e Macau a 20 de Dezembro de 1999.
Hoje em dia, estas duas regiões
apresentam um elevado desenvolvimento económico baseado essencialmente no
turismo, no jogo, na exportação de produtos têxteis, material electrónico e os
típicos produtos chineses.
Embora a economia tenha assistido a
uma profunda liberalização, a política
não sofreu alterações, mantendo-se um forte aparelho repressivo que limita as
liberdades.
A forte concentração do
desenvolvimento económico em determinadas áreas provocou grandes diferenças no
acesso às oportunidades, agravando-se as desigualdades sociais. Nas zonas
costeiras uma poderosa burguesia empresarial, apoiada num próspero proletariado
urbano contrastava com o cenário das zonas do interior, onde as classes
camponesas continuavam empobrecidas.
“A fama de Eldorado chinês correu e
todos os anos chegam à região vários milhares de trabalhadores migrantes em
busca de emprego. No campo ainda vivem 800 milhões de chineses (dois terços da
população) e 88% são pobres (…).
Na China, ir trabalhar noutra região
implica coragem. Já não é proibido, o Estado permite as deslocações (…). Mas
também não as incentiva, com receio de que a desertificação do interior seja
ainda maior. O trabalhador que decide sair da sua terra perde todos os direitos
sociais e de saúde. Mas, por outro lado, sabe que ganha cama, mesa e tanque
para lavar a roupa, garantidos pelas empresas privadas. Um trabalho numa
empresa destas é tábua de salvação para muitos agricultores pobres e
desesperados” Reportagem de Catarina Carvalho, para o jornal Expresso, 2005.
Outro problema que a liberalização
económica trouxe foi a inflação, que em 40 anos de controlo estatal não se fez
sentir, e a supressão dos mecanismos tradicionais de segurança social. Por
isto, assistiu-se a um afluxo de milhões de camponeses às cidades,
reivindicando por democracia.
A situação acaba por explodir 1989,
quando manifestações de estudantes se fazem sentir. Em Maio desse ano,
Gorbatchev visita a China e é aclamado por meio milhão de pessoas. As pessoas
acabam por ser brutalmente agredidas, fazendo-se um número desconhecido de mortos.
Isto foi conhecido como massacre de Tiananmen, por se ter dado numa praça com
esse nome, o coração simbólico da China.
“Na China Comunista, os direitos humanos continuavam sujeitos a agressões
sistemáticas. No dia 3 de Junho, em Pequim, forças policiais e militares
abriram fogo contra manifestantes reunidos na Praça de Tiananmen para
reivindicar mais democracia. Duzentos manifestantes, ou talvez mais, foram
mortos. Um jovem, fotografado em atitude de desafio diante de uma fila de
tanques, incendiou a imaginação do mundo livre.” Martin Gilbert
"O rebelde desconhecido", foto de Jeff Widner, que documenta jovem que, sozinho, tenta parar os tanques. |
Apesar da contestação interna e internacional, o regime mostrou-se
inflexível. Por exemplo, a 29 de Junho de 1998, Clinton discursou perante a universidade
de Pequim, afirmando que nenhum país poderia prosperar, ou encontrar a
estabilidade política, no século XXI “sem abraçar os direitos humanos e a
liberdade individual”. A plateia estava ao rubro, mas, depois do regresso de
Clinton à América, as violações continuaram.
Embora a popularização da Internet na China desse esperanças ao primeiro
partido de oposição da China em mais de meio século, o Partido da Democracia da
China, o seu fundador acabou por ser detido.
A China manteve-se um regime de partido único, totalitário e repressivo.
Concluindo...
Estes três pólos económicos, embora passando por processos de desenvolvimento diferentes, apoiados em mentalidades diferentes, constituem o expoente máximo do desenvolvimento económico no mundo. As opiniões dividem-se em várias matérias, mas, a verdade é que, mesmo sob este clima de incerteza, EUA, UE e Ásia-Pacífico caminham lado a lado na hegemonia económica mundial, contribuindo ao mesmo tempo para o aumento das desigualdades no mundo.
Falamos de uma história recente, que nos é apresentada diariamente em suporte jornalístico e, por isso, todas as informações apresentadas podem facilmente ser comprovadas se seguirmos os veículos de informação que todos os dias nos são disponibilizados.
Bibliografia:
Couto, C; Rosas M A; "O tempo da história" 3ª parte - História A 12º ano. Porto Editora.
Antão, A; Preparação para o Exame Nacional 2011 História A 12. Porto Editora.
Roberts, J.M.; História do século XX, Volume II. Editorial Presença.
Soulet, J-F; História da Europa de Leste - da segunda guerra mundial aos nossos dias. Editorial Teorema.
Roberts, J.M.; História do século XX, Volume II. Editorial Presença.
Hobsbawm, E; Globalização, Democracia e Terrorismo. Editiorial Presença.
Gilbert, M; História do Século XX; D. Quixote.Soulet, J-F; História da Europa de Leste - da segunda guerra mundial aos nossos dias. Editorial Teorema.
Webgrafia:
wikipedia.com
infopedia.com
http://europa.eu/index_pt.htm
Outros:
Apontamentos das aulas
Trabalho realizado por: Helena Fernandes nº18 12ºJ
Muito bom !
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