o fim do
modelo soviético
No
curto espaço de tempo que vai de 1985 a 1991, a história mundial sofreu
modificações profundas: a Guerra Fria terminou de forma inesperada, as
democracias populares europeias aboliram o comunismo, as duas “Alemanhas”
fundiram-se num só Estado e a URSS desintegrou-se, deixando os Estados Unidos
sem concorrente ao lugar de superpotência mundial.
O
termo do modelo soviético transformou a geografia política do Leste europeu e
lançou os antigos Estados socialistas numa transição económica difícil cujas
marcas são, ainda, claramente perceptíveis.
A CRISE DO MODELO
SOVIÉTICO
Quando,
em finais de 1982, morreu Brejnev, apesar das profundas alterações que tinham
marcado a conjuntura internacional no pós-Segunda Guerra Mundial, o
marxismo-leninismo interpretado por Estaline, nos anos, 20 mantinha-se
inalterado nos seus princípios e nas propostas políticas deles decorrentes.
Todavia,
eram muito fortes os ventos da mudança. Se, na Europa Ocidental, os velhos
partidos socialistas e comunistas começavam a passar por profundas renovações
marcadas pelo abandono das filosofias marxistas e plena assunção da via
democrático-reformista, mas também na URSS começavam a ser iniludíveis os
sinais de crise do modelo soviético.
Brejnev
A VIRAGEM POLÍTICA
Em
Março de 1985, Mikhail Gorbatchev é eleito secretário-geral do PCUS (Partido Comunista da União Soviética). O
novo dirigente tinha consciência das dificuldades por que passava a economia
soviética e sentiu que o sistema socialista, apesar de não ter de ser
substituído, necessitava de uma reforma. Do mesmo modo, entendeu os anseios de
liberdade manifestados pela população.
Enquanto,
o nível de vida da população baixava, o atraso económico e tecnológico,
relativamente aos Estados Unidos da América, aumentava significantemente, e só
com muitas dificuldades o país conseguia suportar os pesados encargos
decorrentes da sua vasta influência no Mundo.
Neste
contexto, Gorbatchev cria uma política de diálogo e aproximação ao Ocidente,
propondo aos Americanos o re-início das conversações sobre o desarmamento.
Incapaz de igualar o arrojado programa de defesa nuclear da administração
Reagan, líder soviético, procura assim criar um clima internacional estável que
refreie a corrida ao armamento e permita à URSS utilizar os seus recursos para
a reestruturação interna.
Decidido
a ganhar o apoio popular para o seu arrojado plano de renovação económica, ao
qual chamou: perestroika
(reestruturação), Gorbatchev inicia, em simultâneo, uma ampla abertura política,
conhecida por glasnot (transparência):
Perestroika
Conceito:
- Reestruturação
profunda do modelo soviético empreendida por Gorbatchev a partir de 1958.
- Plano de renovação
económica.
Propostas:
- Descentralização da
economia (gestão autónoma das empresas que se vêm privadas dos planos
quinquenais, bem como dos avultados subsídios que suportavam a sua falta de
rentabilidade.
- Formação de um
sector privado.
Consequências:
- Deteorização da
economia – falências, desemprego, descontrolo económico, pobreza, inflação.
|
Glasnot
Conceito:
- Vertente política
da Perestroika que procurou conciliar o socialismo e a democracia.
Propostas:
- Apela à denuncia da
corrupção.
- Abolição da
censura.
- Abertura
democrática – eleições pluralistas e livres.
Consequências:
- Abalo das
estruturas do poder.
- Fim das Democracias
Populares.
- Vaga
democratizadora – varre o leste (1989)
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Os
governantes soviéticos visavam assim
O
COLAPSO DO BLOCO SOVIÉTICO
A
inflexão da política soviética e as duras críticas tecidas aos tempos de
Brejnev debilitaram a autoridade dos líderes comunistas dos países de Leste. Há
muito reprimida, a contestação ao regime imposto por Moscovo alastrou e
endureceu, começando a abalar as estruturas do poder. E, ao contrário do que
outrora acontecera, a linha dura dos partidos comunistas europeus não contou
agora com a intervenção militar russa, para «normalizar» a situação. Confiante
no clima de concórdia que estabelecera com o Ocidente, Gorbatchev passou a
olhar as democracias populares como uma «obrigação» pesada, da qual a URSS só
ganhava em libertar-se.
A
doutrina da «soberania limitada» foi, assim, posta de lado, e os antigos
países-satélites da URSS puderam, finalmente, escolher o seu regime político.
No ano de 1989, uma vaga democratizadora varre o Leste: os partidos comunistas
perdem, um após outro, o seu lugar de «partido único» e, pouco depois, realizaram-se
as primeiras eleições livres do pós-guerra, que promovem a elaboração de novos
textos constitucionais.
Neste
processo, a «cortina-de-ferro», que, há quatro décadas, separava a Europa,
levanta-se finalmente: as fronteiras com o Ocidente são abertas e, perante um
mundo estarrecido, cai o Muro de Berlim. Depois de uma ronda de negociações
entre os dois Estados alemães e os quatro países que ainda detinham direitos de
ocupação, a Alemanha reunifica-se – Tratado «2+4».
Em
Novembro de 1990 é anunciado, sem surpresa, o fim do Pacto de Varsóvia e, pouco
depois, a dissolução do COMECON.
Nesta
altura, a dinâmica política desencadeada pela perestroika tornara-se já
incontrolável, conduzindo, também, ao fim da própria URSS. O extenso território
das Republicas Soviéticas desmembra-se, sacudido por uma explosão de
reivindicações nacionalistas e confrontos étnicos.
O
processo começa nas Repúblicas Bálticas, anexadas por Estaline durante a
Segunda Guerra Mundial. Em 1988, a Estónia assume-se como Estado soberano no
interior da URSS, com direito a emitir passaportes próprios e a vetar as leis
aprovadas pelo parlamento soviético. Em 1990, a Lituânia vai mais longe e
afirma o seu direito de deixar a União. O mesmo acontece com a Letónia.
Confrontado
com estas dissidências, Gorbatchev, tenta parar o processo pela força,
intervindo militarmente nos Estados Bálticos (inicio de 1991). Esta actuação
retira o líder soviético da vanguarda reformista, e o apoio dos mais ousados
passa para um ex-colaborador de Gorbatchev, Boris Ieltsin.
Eleito
como presidente da Republica da Rússia, Ieltsin reforça o seu prestígio ao
encabeçar a resistência a um golpe de Estado dos saudosistas do Partido, que
pretendiam retomar o poder e parar as reformas em curso. Pouco depois, no
rescaldo do golpe, o novo presidente toma a medida extrema de proibir as
actividades do partido comunista.
No
Outono de 1991, a maioria das repúblicas da União declara a sua independência.
Em Dezembro, nasce oficialmente a CEI (Comunidade de Estados Independentes), à
qual aderem 12 das 15 repúblicas que integravam a União Soviética.
Dias
depois, vencido no seu propósito de manter o país unidos, Gorbatchev abandona a
presidência de uma URSS que, efectivamente, já desaparecera.
OS
PROBLEMAS DA TRANSIÇÃO PARA A ECONOMIA DE MERCADO
A
perestroika tinha, prometido aos Soviéticos uma melhoria acentuada e rápida do
nível da vida: melhores subsídios, mais bens de consumo, melhor assistência
social. Mas, ao contrário do previsto, a reconversão económica foi um fracasso
e a economia deteriorou-se rapidamente.
-
O fim da economia planificada significou, o fim dos subsídios estatais às
empresas, que se viram na necessidade de se tornarem lucrativas ou enfrentarem
a falência. Assim, muitas unidades desapareceram e outras extinguiram numerosos
postos de trabalho.
-
O descontrolo económico e a liberalização dos preços (os bens de primeira
necessidade deixaram também de ser subsidiados pelo Estado) desencadearam uma
inflação galopante que a subida de salários não acompanhou.
-
O desemprego, o atraso nos pagamentos das pensões e dos salários dos
funcionários públicos, bem como a rápida perda de valor do rublo significaram o
fim das poupanças de muitas famílias soviéticas, que rapidamente se viram sem
meios de subsistência.
No
entanto, a liberalização económica enriqueceu um pequeno grupo que, em pouco
tempo, acumulou fortunas fabulosas. De uma forma geral, a riqueza passou para
as mãos de antigos altos funcionários que souberam aproveitar a posição-chave
em que se encontravam. Em meados dos anos 90, 45% do rendimento nacional
encontrava-se nas mãos de menos de 5% da população
Os
países de Leste viveram também, de forma dolorosa, a transição pela economia de
mercado.
Privados
dos subsídios da União Soviética, a braços com uma significativa redução das
trocas na área do antigo COMECON e com uma produção alicerçada em indústrias e
equipamentos obsoletos, os antigos satélites da URSS sofreram uma brusca
regressão económica. Tal como na Rússia, o caos económico instalou-se e as
desigualdades agravaram-se. De acordo com o Banco Mundial, nos países de
transição para a economia de mercado, «a pobreza espalhou-se e cresceu a um
ritmo mais acelerado do que em qualquer lugar do Mundo», assim como a
percentagem de pobres elevou-se.
Este
quadro genérico esconde, porém, grandes disparidades regionais e nacionais.
Países como a República Checa, a Hungria ou a Polónia que beneficiaram de uma
relativa estabilidade política, conseguiram captar importantes investimentos
estrangeiros e grandes fluxos turísticos conseguindo assim uma evolução
económica positiva, devendo-se ainda, em parte, ao forte estimulo que constitui
a sua recente adesão à União Europeia.
Em
síntese:
João Ferraz, nº19 12ºJ
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