terça-feira, 15 de novembro de 2011

A Rússia e o Socialismo

Czar Nicolau I

Nos inícios do século XX a Rússia vivia sob um regime autocrático protagonizado na dinastia Romanov, mais propriamente no czar Nicolau II. Este regime era apoiado pela igreja ortodoxa e pela Nobreza. O resto da população vivia desagradada com a sua politica repressiva. 
Para aliar ao seu desagrado, a Rússia é derrotada, em 1904 pelo Japão, o que levou a que, no dia 9 de Janeiro de 1905, em Sampetersburgo, se assistisse a uma revolução – o Domingo sangrento.
"Vieram tropas de fora da cidade para reforçar a guarnição. Até agora, os operários têm se mantido calmos. O seu número deve andar à volta de 120.000.” (Nicolau II, no seu diário)
Domingo sangrento - 1905
As pessoas manifestavam-se pacificamente – cantando o hino, mostrando bandeiras e retratos do czar - mas acabaram por dar com o caminho fechado pela Guarda Imperial, que abriu fogo sobre os manifestantes. Morreram 2000 pessoas. Embora o czar não se encontrasse no palácio de Inverno, pois estava em Czarkoe Selo, assumiu as culpas das mortes, o que acabou por criar mais descontentamento entre a população.
Por isso, para evitar uma guerra civil criou a Duma. A Duma era uma espécie de Parlamento e com ela, Nicolau II pretendia iludir a população, fazendo-a julgar que este exercia um poder mais democrático. No entanto, continuava a exercer convictamente uma monarquia absoluta apoiada pela igreja, pela nobreza, pela burocracia e pelo exército.
Isto levou a que se dessem duas revoluções no ano 1917

Revolução de Fevereiro:
Ao descontentamento da população perante o regime autocrático do czar veio-se juntar a entrada da Rússia para a I guerra mundial ao lado da tríplice Entente – a guerra fez cair a produção industrial (que já era pouca) e agrícola, aumentou a inflação, a miséria e causou muitas mortes.

Sucederam-se manifestações femininas, greves de operários, motins de soldados e marinheiros e ainda interveio o Sovietes de Petrogrado.
Imediatamente se assistiu à queda do Czarismo e institui-se um governo provisório cujos protagonistas foram Lvov e Kerensky. Os seus propósitos, expressos num documento de 16 de Março de 1917, eram:
“1. Amnistia imediata e completa, aplicada a todos os casos de natureza política e religiosa, incluindo os actos terroristas, as revoltas militares, as sublevações agrárias, etc.
2. Liberdade de palavra, imprensa e reunião, (…) direitos de se sindicalizar e fazer greve (…).
3. Abolição de todas as restrições fundadas na origem social, na religião e na nacionalidade.
4. (…) convocação de uma Assembleia Constituinte, baseada no sufrágio universal, directo e secreto, o qual determinará a forma do governo e a Constituição do país.
5. Substituição da polícia [repressiva] por uma milícia militar.
6. Eleições para os órgãos locais na base do sufrágio universal, directo, igual e secreto.”
No entanto, todas estas liberdades, características de um regime democrático parlamentar, abriram portas à propagação das ideias socialistas.

Revolução de Outubro:
Lenine
Lenine (regressado à Rússia em Abril) liderou o golpe, levado a cabo pelos bolcheviques, que iria depor o governo provisório. 
Defendendo que os proletários (agricultores, operários, marinheiros, soldados) eram os verdadeiros produtores da riqueza nacional, seria legitimo serem eles a governar o país. Como até ao momento tinham sido oprimidos e explorados pelos proprietários, uma das medidas imediatas era a abolição da propriedade privada e a sua nacionalização.
Assinatura do tratado Brest-Litovsk
Outra das suas imediatas ambições era a retirada da Rússia da guerra, com a justificação de que esta não trazia nada de bom para a nação e apenas servia para alimentar as nações capitalistas. Assinou-se, portanto, em 1918, o tratado de Brest-Litovsk entre o governo bolchevique e a Tríplice Aliança. Claro que isto trouxe implicações à Rússia – perdeu territórios que agora formam a actual Polónia, Letónia, Estónia, Lituânia e Finlândia. Isto significou a perda de ¼ da sua população e das suas terras cultiváveis, ¾  das minas de ferro e de carvão.
Lenine cita isto nas suas Teses de Abril:
“1. A nossa atitude para com a guerra, que é incontestavelmente uma guerra imperialista de salteadores, não admite qualquer concessão (…).
2. O que há de original na situação actual da Rússia é a transição da primeira fase da revolução (que deu poder à burguesia […]) para a segunda etapa, que deve dar o poder ao proletariado e às camadas pobres do campesinato.
3. Nenhum apoio ao Governo Provisório. (…)
6. Nacionalização de todas as terras do país (…).”
Entre as novas medidas deste governo comunista podemos ainda destacar 3 decretos fundamentais redigidos por Lenine:
a)    Decreto sobre a paz: “O governo operário e camponês (…) propõe (…) o início de conversações imediatas com vista a uma paz justa e democrática (…) desejada pela esmagadora maioria das classes trabalhadoras (…) depois do desmembramento da monarquia czarista.”
b)    Decreto sobre a terra“1. A propriedade (…) sobre a terra é abolida imediatamente sem qualquer indemnização.”
c)    Decreto sobre as nacionalidades“1. Igualdade e soberania dos povos da Rússia. (…)
3. Supressão de todos os privilégios e limitações nacionais ou religiosas.
4. Livre desenvolvimento das minorias nacionais e grupos étnicos (…)”

Obviamente que esta vertente leninista do marxismo não agradava às classes mais abastadas, nomeadamente os proprietários, que assim perderiam as suas terras. Isto vai acabar por levar à guerra civil.
Trotsky e o exército vermelho
A guerra civil opôs o Exército Vermelho, organizado por Trotsky, e o Exército Branco – grandes proprietários e antigos dirigentes políticos, que reagem às nacionalizações. O Exército Branco era também apoiado por alguns países capitalistas que, para além de temerem a propagação do comunismo, queriam que a Rússia se mantivesse na guerra.

É neste contexto que se institui o comunismo de guerra. Foi uma política económica na qual se institui um governo de partido único e onde todas as outras organizações partidárias eram proibidas. Procedeu-se também à canalização de todos os recursos económicos para o esforço de guerra, incluído produções agrícolas, o que deixava os camponeses na miséria. Foram tempos de “terror vermelho” – abriu-se uma perseguição a todos os inimigos da revolução. Os opositores eram mandados, pela Tcheca, para campos de trabalhos forçados, campos de concentração, ou eram mesmo executados.
A guerra civil viu o Exército Vermelho derrotar o Branco e o comunismo sair vitorioso em 1920.

centralismo democrático surge também com o comunismo de guerra.
Em 1922 surge a URSS onde vigorava este regime. Os sovietes de base elegiam os seus representantes para sovietes locais e regionais, que, por sua vez elegiam o soviete supremo (de âmbito nacional). Era deste último soviete que saiam os ministros do governo e que elegiam o Presidium – órgão máximo da República. Concluímos assim, que o poder emanava das bases.
O centralismo democrático incluía uma das regras do comunismo de guerra: supressão de todos os partidos politicas, onde apenas se mantinha o PCUS – Partido Comunista da União Soviética. Assim, podemos dizer que havia uma clara identificação entre o Partido e o Estado, sendo o Presidente do Partido o Presidente da República.
É centralista pois está, então, concentrado no Partido Comunista e é exercido de forma autoritária, ou seja, as bases têm que obedecer às ordens do topo sem qualquer contestação.
É democrático pois os sovietes de base elegem, através do sufrágio universal, os restantes membros da pirâmide.

Vendo o sucesso da revolução de Outubro e tendo em conta o quadro económico da Europa pós I Guerra Mundial, o gorverno Russo decidiu lançar um movimento operário que ficou conhecido como Internacional Comunista ou Komintern. Esteve na origem desta reunião de operários impor no mundo o socialismo o que, acabou por se reflectir numa vaga revolucionária nos anos 20 por toda a Europa. 

Embora o bolchevismo tivesse triunfado, a guerra civil deixou o país na miséria. É neste contexto que surge a Nova Politica Económica ou NEP.
“A ruína extrema (…) tornou esta transição necessária e urgente visto a impossibilidade de restabelecer a indústria. Daí a necessidade de melhorar (…) a situação dos camponeses. O meio: imposto em géneros, desenvolvimento das trocas entre a agricultura e a indústria. A troca é a liberdade de comércio, é o capitalismo. (…)
Que resulta daí? Segundo uma certa liberdade de comércio, renascem a pequena burguesia e o capitalismo. O capitalismo privado pode ajudar ao desenvolvimento do socialismo. Nada há de perigoso nisto enquanto o proletariado detiver firmemente o poder, enquanto detiver firmemente entre as suas mãos os transportes e a indústria pesada.” (Lenine, 1921).
Lenine tinha medo que eclodisse uma nova guerra civil devido aos baixos níveis de produção, que tinham deixado o proletariado na miséria.
Assim, o chefe de Estado russo permitiu o recuo do processo de nacionalização nos sectores de menos importância, mantendo os transportes e a indústria pesada, por exemplo, sob o comando da nação. Impôs um imposto de géneros na agricultura, deu liberdade de comércio interno e ainda permitiu alguma intervenção e investimentos estrangeiros na economia.
Concluímos assim que Lenine empreendeu um recuo que ele próprio considerava estratégico. Esta economia de traços capitalistas permitiria a reposição dos níveis de produção que foram mesmo ultrapassados graças aos nepman (burguesia de negócios) e aos kulaks (proprietários rurais) que elevaram esses níveis.

Múmia de Lenine.

No entanto, uma embolia cerebral não lhe permitiu ver os resultados da NEP.
Estava aberta a luta para liderar a Rússia – de um lado Trotsky e do outro Estaline. O primeiro defendia o fim da NEP, a socialização da economia, a continuação da revolução e a sua propagação pelo mundo. Já Estaline, opunha-se, querendo tirar partido da NEP e adiando a propagação da revolução com o intuito de a solidificar primeiro.
Trotsky e Estaline
Diz-se que Lenine preferia Trotsky, como podemos ver nestes excertos que Lenine escreveu em 1923, nas vésperas da sua morte: “Estaline é demasiado brutal (…). Proponho, pois, aos camaradas que estudem um meio para demitir Estaline deste cargo e pôr no seu lugar uma outra pessoa que tenha sobre ele uma só vantagem, a de ser mais tolerante, mais leal, mais polido e mais atencioso para com os camaradas e com um humor menos caprichoso.”
No entanto, foi Jossip Vissarianovitch Dhugashvili, cujo nome político é Estaline ("homem de aço", do alemão Stahl), quem subiu ao poder. 



O estalinismo                                                                                  
Mal chegou ao poder, Estaline, reforçou o centralismo democrático e aboliu os princípios da NEP. Tinha-se iniciado um processo de nacionalização da economia bastante radical. Em 1933 pertenciam ao Estado quase toda a terra, subsolo, instalações fabris, redes de distribuição, comércio… Antigos proprietários eram agora meros assalariados.
Presos de um Gulag
A oposição não tardou a chegar. Kulaks e nepman, que acabaram por tirar a Rússia da crise pós guerra civil, não concordavam com este processo que nada de positivo lhes trazia. Iniciou-se um período de forte repressão característico dos regimes de ditadura – assistiram-se a milhões de mortos e enviados para os Gulags.

Quanto à economia, o governo estalinista, empreendeu uma série de medidas que recusavam qualquer tipo de livre iniciativa ou livre concorrência. Foram estipuladas metas de produção e definidos os sectores de mais importância.
Cartaz de propaganda dos anos 30.
"Camarada, venha juntar-se ao
nosso kolkhose"

Para a agricultura Estaline tinha em vista uma grande mecanização de modo a libertar o maior número de pessoas para a indústria. Existiam, portanto, duas propriedades rurais: os kolkhoses e os sovkhoses. Os primeiros eram grandes propriedades colectivas em regime cooperativo sob administração de delegados do partido, ficando parte da produção para o Estado e a restante era distribuída pelos camponeses de acordo com o trabalho efectuado. Já os segundos eram também grandes propriedades dirigidas directamente pelo estado onde os trabalhadores recebiam um salário fixo e normalmente baixo.
Claro que algumas reacções, mais uma vez, não foram positivas. Para não entregarem o seu gado às colectividades, muitos agricultores abatiam-nos. “Todas as noites, Gremiatchi-Log abatia o seu gado. (…) Toda a gente matava, quer os que acabavam de se inscrever no kolkhose, quer os que exploravam por sua conta.” Mikhail Cholokhov, 1932.
Embora houvesse oposição os resultados podem-se avaliar como positivos.

Quanto à indústria, Estaline desenvolveu planos quinquenais. O primeiro plano (1928-33) visava implantar em massa a indústria pesada. Para garantir a plena autonomia nacional fomentou a construção de grandes complexos siderúrgicos, hidroeléctricos, fabris, de redes de comunicações, exploração de matérias-primas e produção de alimentos. Recorreu à contratação de técnicos estrangeiros e à formação de especialistas.
O segundo plano (1933-38) visou desenvolver a indústria ligeira, alimentar, de vestuário e calçado de forma a proporcionar melhor qualidade de vida à população.
O terceiro e último plano, previsto para os anos seguintes, tinha como objectivo desenvolver a indústria química, hidroeléctrica e o sector energético. No entanto, o inicio da II Guerra Mundial interrompeu este plano, fazendo a economia direccionar-se toda para os esforços de guerra.



Os planos foram retomados no fim da guerra, mas agora com o intuito de fazer a Rússia recuperar da guerra e ainda de investir na investigação científica.
Estes planos tiveram um balanço positivo uma vez que elevou a Rússia ao terceiro lugar do pódio no que toca a potências económicas mundiais. Isto apenas foi possível, tendo em conta a sua conjuntura, devido a quatros pontos essenciais – forte disciplina, deportações em massa de trabalhadores, apelo ao interesse pessoal e à atribuição de prémios e, por fim, ao culto de Estaline e da nação.
A toda esta politica económica chamamos de autarcia, que, em termos de objectivos, em nada diverge dos fascismos que se afirmavam no ocidente europeu.

O totalitarismo estalinista

A todas as regiões incluídas na Rússia sofreram um programa de reconhecimento da sua autonomia cultural, igualdade e soberania. No entanto, teriam que se aliar à revolução socialista. Foi desta maneira que se consolidou a URSS, cuja capital era Moscovo. A esta União correspondia, claro, um regime de poder central dotado de autoridade ilimitada – uma ditadura. No entanto, não era a ditadura do proletariado, como Marx defendia nas suas teses, mas sim a ditadura do Partido Comunista, exercida pelo Presidente da República. Também levou a cabo um grande número de purgas dentro do partido com o intuito de descobrir aqueles que não o apoiavam. Assim, criou e fez-se rodear por uma elite partidária – a nomenklatura -, indo, portanto, contra os ideais marxistas (que defendiam a igualdade entre todos) e fazendo-o receber árduas críticas, que o classificavam como anti-marxista ou fascista.

A constituição russa, promulgada em 1936, confirmou a URSS como Estado totalitário – “Artigo 32. O poder legislativo da URSS é exercido exclusivamente pelo Soviete Supremo da URSS.” 

Tal como Hitler e Mussolini, o Pai dos povos era como que divinizado. A isto chamamos de culto do chefe e do Estado, na medida em que através de manifestações e de marchas, havia uma constante divulgação dos grandes feitos de Estaline e do Estado.
Símbolo da NKVD
Também como nos regimes fascistas se procedeu à arregimentação das massas, logo desde a idade infantil, porque as crianças seriam mais fáceis de influenciar e de atrair para o regime.
Graças à NKVD, mais especificamente á GUGB, a violência afirmava-se a um grande ritmo. Esta polícia política constituía uma feroz ameaça para os opositores, perseguindo-os, prendendo-os, julgando-os e condenando-os. Também tinha como alvos favoritos as minorias étnicas e os grupos religiosos, atacando, por isso, judeus, a Igreja Ortodoxa Russa, ortodoxos gregos, católicos e muçulmanos.
Execução por parte da NKVD
Estaline esteve no poder até 1953, ano da sua morte. Uns afirmam que foi vítima de hemorragia cerebral e outros dizem que foi assassinado. O pai dos povos faleceu então, com 75 anos e, embora se debatam muito estes números pensa-se que o número de vítimas mortais durante este governo ronde os 9 milhões, como nos diz o escritor russo Vadim Erlikman. 




Bibliografia:
Couto, C; Rosas M A; "O tempo da história" 1ª parte - História A 12ºano. Porto Editora.
Antão, A; Preparação para o Exame Nacional 2011 História A 12. Porto Editora.

Webgrafia:
wikipédia.com
infopédia.com
http://iglusubversivo.wordpress.com/2009/12/29/constituicao-sovietica-de-1936/#capitulo2

Outros:
Apontamentos das aulas.


Trabalho realizado por: Helena Fernandes nº18

1 comentário:

  1. Recomendo -

    http://www.comunidadestalin.blogspot.com.br/
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