As Transformações Sociais e Culturais do Terceiro Quartel do Século XX
O porquê do dinamismo cultural de Nova Iorque no segundo pós-guerra
Dadas as tamanhas atrocidades cometidas durante o período da 2ª Guerra Mundial, entre 1939 e 1945 (quer fosse através do Holocausto na Alemanha quer através dos bombardeamentos atómicos, sendo exemplo disso o Japão), quando esta terminou acabou por provocar um sentimento de choque por parte da população ocidental.
É nesta sequência de ideias que a Europa se viu incapaz de resolver os problemas nela existentes: a falta de capacidades para assumir a liderança da política internacional nem do respetivo processo civilizacional; o bloqueio à criação por parte do Totalitarismo e, por fim, o facto de a Europa ter sido, mais uma vez, palco de guerra (o que conduziu à sua destruição).
Assim, e já tendo ajudado a Europa tanto a nível financeiro como económico em finais do século XIX, os Estados Unidos eram dos principais produtores e investidores mundiais graças:
- À tecnologia (que, por sinal, era bastante avançada);
- Ao contributo demográfico fruto das vagas de imigração europeia;
- À quase total liberdade de iniciativa.
Contudo, esta hegemonia Americana não foi um processo repentino: foi um processo que adveio do final da 1ª Guerra Mundial. E o mais impressionante é que nem a crise de 1929 nem a Grande Depressão de 1930 foram entraves à continuação da afirmação dos Estados Unidos. É assim que, e justificando a ideia descrita a negrito, os Estados Unidos criam, em 1947, o Plano Marshall, plano esse que tinha como finalidade ajudar a construir a Europa através de meios económicos. Já em termos políticos, a América propagou a sua influência até ao considerado bloco ocidental.
Foi através dos fatores acima mencionados que os Estados Unidos se assumiram como encaminhadores do Ocidente tanto a nível político, como económico e ainda a nível social e cultural.
Surpreendentemente, e sendo uma novidade na história da arte, o surgimento das novas correntes artísticas durante a segunda metade do século XX ocorreu em Nova Iorque, entrando em contradição com o que se ditava usualmente (as cidades de Paris, Berlim, Milão, Viena e Moscovo eram consideradas o foco das inovações artísticas), na medida em que as grandes alterações e as maiores polémicas do mundo da arte decorriam em Nova Iorque.
“Pensei que Nova Iorque era uma catástrofe cem vezes, e cinquenta vezes me disse a mim próprio que era uma catástrofe magnífica.”
- Le Corbusier
Com a importância cultural que os Estados Unidos tinham vindo a adquirir já desde o início do século XX e juntamente com a capacidade monetária por parte da burguesia, era desejada e necessária a promoção cultural. Deste modo, as classes com capitais mais elevados começaram a investir, ainda que de modo privado, na criação de galerias e grandes museus. Exemplo disso foi o contributo de Peggy Guggenheim, sobrinha de um conceituado colecionador, face à divulgação da arte europeia surrealista e abstrata assim como a dos pintores americanos, através da sua galeria Art of This Century, e ainda a inauguração do Museum of Non-Objectiv Art e o Museum of Modern Art, mais conhecido por MoMA.
Fig.1 – O MoMA |
Esta atracão por Nova Iorque pode-se provar, efetivamente, pelo facto de esta ser sinónimo de liberdade de expressão, contrariamente às cidades de Berlim, Viena e Moscovo, cidades onde as correntes artísticas eram temidas e negadas tanto por Hitler como por Estaline. Assim, sendo Nova Iorque a nova capital cultural, era de esperar que recebesse artistas de renome e pensadores Europeus que escapavam aos regimes autoritários vigentes. Destacam-se as figuras do cientista Albert Einstein; da atriz Marlene Dietrich e do realizador Fritz Lang, sendo que acabaram por dar um enorme contributo à produção científico-cultural dos Estados Unidos.
Foi assim que, através da junção entre os artistas americanos e os artistas provenientes da Europa, surgiu a Escola de Nova Iorque, que assumiu a liderança da dinamização das artes no pós-guerra e ainda originou os movimentos vanguardistas do expressionismo abstrato.
O expressionismo abstrato (1945-1960)
Na 2ª metade do século XX, num pós guerra caótico e vítima da ameaça nuclear, a arte expressa-se fruto da atitude da Humanidade face a este cenário. É assim que surge, nos Estados Unidos, o expressionismo abstrato.
Esta nova corrente assemelha-se a algumas vanguardas que marcaram a 1ª metade do século XX, na medida em que substituem o figurativismo pelo abstracionismo através da execução de formas e de aplicação de cor que, por sinal, são influenciadas tanto pelo surrealismo como pelo expressionismo. Deste modo, o termo “expressionismo abstrato” foi utilizado pela primeira vez pelo crítico Robert Coates que, considerando que este novo género de arte não o fascinava por representar “uma escola de salpicos e borrões”, o aplicou ironicamente. Sendo uma corrente que usava a “linguagem universal da abstração”, era vista com bons olhos por parte dos apreciadores de arte visto que, por não usar técnicas figurativas, não colocava a hipótese de fazer referência nem aos cânones estéticos do nazismo nem ao realismo socialista.
É assim que, nos anos 40 e 50, é criado um grupo que se sobressaiu por utilizar as técnicas do expressionismo abstrato. Apesar de estarem em concordância relativamente às tendências estéticas ditas comuns, por exemplo a rejeição da pintura sobre cavalete, os membros do grupo eram distintos graças aos seus diferentes pontos de vista visuais:
- Jackson Pollock (1912-1956) e Willem De Kooning (1914-1997): Foram os vultos do expressionismo abstrato que mais se destacaram entre 1940 e 1950 através do seu estilo intuitivo, da utilização das formas simbólicas e das cores vivas. O seu principal objetivo era que a obra espelhasse a criação e o gesto tanto descontraído como agressivo do artista.
Fig.2 – Obra de Jackson Pollock |
“Quando estou a pintar não tenho consciência do que faço. Só depois de uma espécie de 'período de familiarização' é que vejo o que estive a fazer".
- Jackson Pollock
É nesta ordem de ideias que, em 1952, o crítico Harold Rosenberg atribui uma expressão deveras particular a este novo estilo de expressionismo abstrato utilizado pelos dois artistas: action painting, que significa pintura de ação (o que traduz a exactidão deste ato de pintar).
Fig.3- Obra de Jackson Pollock |
Sendo uma técnica totalmente aleatória, nunca permitia que o artista soubesse o resultado final. É este motivo que leva a que a maior parte dos quadros elaborados através desta técnica não tenham nome, sendo intitulados apenas com um número ou por vezes nem isso.
Este género de quadros só eram considerados reais quando o observador os contemplava e interpretava, facto que se demonstra atual na medida em que as obras do expressionismo abstrato, quando são submetidas à observação, são aquilo que os observadores vêem independentemente da pessoa que sejam ou do momento no qual se encontram.
Fig.4 – Obra de Willem De Kooning |
- Mark Rothko (1903-1970): Salientou-se graças à criação de colour fields, que significa “véus de cor sobrepostos” marcados pela ausência de uma linha de diferenciação rigorosa.
Fig.5 – Obra de Mark Rothko |
- Ad Reinhardt (1913-1967): Dedicou-se à criação de campos de cor uniformizada cujo intuito é sobrepor a limpidez à emotividade.
Fig.6 – Obra de Ad Reinhardt |
- Barnett Newman (1905-1970): Tem como inspiração o pintor Holandês Piet Mondrian e as suas obras são marcadas pelas cores puras.
Fig.7- Obra de Barnett Newman |
A Pop Art (1958-1965)
Tal como os termos anteriormente
mencionados, também este foi aplicado por um crítico de seu nome Lawrence
Alloway. A Pop Art, que significa “arte popular”, surgiu ao mesmo tempo
nos Estados Unidos e no Reino Unido. Contudo, estando os EUA num período de auge
artístico, tal como já referi, foi um incentivo à sua experimentação mais do
que em qualquer outro país.
Fig.8- Obra de Andy Warhol |
Esta nova corrente tinha como propósito aproximar-se tanto da cultura como dos meios de comunicação da sociedade de consumo e da cultura de massas, usando alguns dos seus elementos e objetos, com o intuito de impressionar o observador em função da apresentação destes. É assim que este tipo de quadros se tornam na nova publicidade, facto que conduziu a um clima de rivalidade com os media. Exemplos disso são as pinturas das garrafas de vidro da marca Coca-Cola ou até mesmo da conceituada marca de sopa Campbell’s, os retratos de artistas e pessoas famosas, que contribuíam cada vez mais para a promoção da imprensa, do cinema e da televisão.
Destacam-se, deste modo, os seguintes
vultos:
- Andy Warhol (1928-1987): É conhecido por ser o representante
da Pop Art nos Estados Unidos, facto
que se justifica talvez por se ter iniciado profissionalmente como desenhador
publicitário. Sendo que não apreciava as técnicas do expressionismo abstrato,
optou por se aproximar das massas e reproduzir o seu quotidiano no que lhe
fosse possível. Assim, e acabando por retratar uma sociedade marcada pelos
meios de informação e pelos artigos de grande consumo, foi alvo de um estudo
intitulado de “Estudo Psicológico e Sociológico da Próspera Sociedade
Americana dos Anos 60”.
Warhol acabou por transformar objetos
consumidos diariamente pelas massas em arte. Além disso, começou a usar
técnicas até à data nunca utilizadas pois eram desvalorizadas: a serigrafia e a fotografia. É com
estas técnicas que Warhol imprimia fotografias nas telas fazendo com que houvesse
uma revolução no tradicionalismo, já que se considerava que o valor da arte era como um objeto
único que não se podia reproduzir.
Tal como o seu colega Roy
Lichtenstein, Warhol pretendia acrescentar uma crítica irónica face aos ideais
levados a cabo pela sociedade americana.
Fig.9- Obra de
Andy Warhol
|
-Roy Lichtenstein (1923-1997): Tal
como os princípios da Pop Art
enunciam, Lichtenstein assume a tendência de banalizar a arte, identificando-se
assim com os media. A sua técnica de
distinção é a transposição para a tela de imagens ampliadas de banda desenhada
que posteriormente pinta. É graças à ampliação das imagens que obtém um
efeito deveras técnico onde se verifica o espesso contorno gráfico e o
pontilhismo.
-Richard Hamilton (1927): É através deste
artista que a Pop Art assume uma
posição de distanciamento face ao expressionismo abstrato na medida em que
ocorre a introdução do sentido de humor de vertente um pouco provocadora.
Apesar de usar os mesmos processos de impressão de Warhol e Lichtenstein, usa
também as colagens e objetos considerados comuns.
Fig.11- Obra de Richard Hamilton |
A Arte Conceptual nos anos 60 e 70
Fig.12- Obra de
Yves Klein
|
À semelhança de uma corrente já
estudada previamente, o Dadaismo, a arte conceptual foi criada nos moldes
deste. Assim, e sabendo que segundo Duchamp
(dadaísta) havia uma superioridade do pensamento do artista face à execução da
obra, a arte conceptual menosprezou a existência material da arte.
Ao contrário das correntes
explicitadas acima, a Pop Art e o Expressionismo Abstrato, na primeira
pelo seu lado austero e na segunda pelo seu lado racional, o foco da arte conceptual é o processo artístico, sendo que a
figura que se destaca é Yves Klein
(1928-1962) quando sugeriu uma exposição totalmente vazia. Assim, tanto o
debate do que antecede a produção do objeto de arte como a produção em si se
tornam fundamentais. Para que o pensamento do artista ficasse documentado,
utilizava-se a escrita e a fotografia, aumentando assim a categoria das obras.
Já que a arte conceptual rejeitava os
princípios das correntes artísticas acima referidas, dedicou-se à reflexão
filosófica, procurando assim um rumo, mas sempre sem provocar qualquer
apreciação a nível estético ao observador. Destaca-se, então, sendo um tipo
de arte marcada pelo facto de, antes de ser apreciada, deve ser pensada,
princípio que os artistas Joseph Kosuth
(1945) e Piero Manzoni (1934-1963) defendem e que se encontra explícito nas
suas obras.
Fig.13- Obra de Joseph Kosuth |
Fig.14- Obra de Piero Manzoni |
A Literatura Existencialista no contexto dos anos 40 e 50
do século XX
Antes de mais é necessário explicitar
a definição de Existencialismo. O existencialismo foi uma corrente evidentemente
filosófica que emergiu na Europa no período decorrente entre o 1º e 2º
conflitos mundiais. Tem como princípios a centralização da reflexão na
liberdade individual na medida em que favorece a existência como experiência
pessoal e não como contributo do ser.
Após o término da 2ª Guerra Mundial a
destruição da arte foi considerada uma obra majestosa do espírito humano pelas
correntes artísticas. Isto verifica-se pois, o expressionismo abstrato (pela
sua conduta instintiva e por vezes aleatória), a Pop Art (por banalizar a arte na medida em que a acercou de
qualquer artigo de consumo diário) e a arte conceptual (sendo que retirou à
arte toda a sua visibilidade) eram consideradas vanguardas que não seguiam os
padrões tradicionais de arte.
Assim, e estando a literatura a
sofrer um período de destruição e vazio entre 1940 e 1950, foi equiparada à
crise que o antropocentrismo tivera dentro de moldes semelhantes. Tal como já
referi previamente no meu trabalho do período passado, que se encontra aqui, o Realismo era marcado pelas preocupações
sociais por ele vividas. Contudo, agora no contexto de um mundo que durante somente 20 anos foi vítima de duas Guerras Mundiais, de atentados à Humanidade como
o Holocausto (na Alemanha) e da eminência das bombas atómicas (que atingiram o
Japão), tais preocupações pareciam descabidas.
A enfatização do sentido da
existência humana era então influenciada pela filosofia existencialista. É no âmbito deste tema que
filósofos como Karl Jaspers (1883-1969),
Martin Heidegger (1883-1976) e,
principalmente, Jean-Paul Sartre
(1905-1980) se opõem ao racionalismo cartesiano. É assim que afirmam que, antes
de o indivíduo pensar, existe.
Excerto da obra “O
Existencialismo é um Humanismo”:
[…]“O homem
faz-se; não está realizado logo de início, faz-se escolhendo a sua moral, e a
pressão das circunstâncias é tal que não pode deixar de escolher uma. Não
definimos o homem senão em relação a um compromisso […] sempre que o homem escolhe
o seu compromisso e o seu projeto com toda a sinceridade e lucidez...
Quando
declaro que a liberdade, por meio de cada circunstância concreta, não pode ter
outro fim senão querer-se a si própria, se alguma vez o homem reconheceu que
estabelece valores no seu abandono, já não pode querer senão uma coisa - a
liberdade como fundamento de todos os valores. Não significa que a queira em
abstrato. Quer dizer simplesmente que os atos dos homens de boa-fé têm como
último significado a procura da liberdade enquanto tal. Um homem que adere a
tal sindicato comunista ou revolucionário quer fins concretos; estes fins
implicam uma vontade abstrata da liberdade; mas esta liberdade quer-se em
concreto. Queremos a liberdade pela liberdade e por meio de cada circunstância
particular. E, ao querermos a liberdade,
descobrimos que ela depende inteiramente da liberdade dos outros, e que a
liberdade dos outros depende da nossa.” […]
-Jean Paul Sartre
(Entrevista a Sartre)
No período entre os anos 40 e 50, o
existencialismo ganhou um maior número de adeptos. É assim que são
elaboradas diversas obras literárias, nomeadamente de Sartre, Simone de
Beauvoir (1908-1986) e Albert Camus (1913-1969), marcadas pela existência, pelo
nada, pela culpa, pela morte e pelo absurdo. Outras áreas também foram influenciadas
pelos ideais existencialistas, como por exemplo: a Psicologia, a Psiquiatria, o
cinema, a música (o Jazz, através do
seu poder de improviso) e as artes
plásticas. Já a nível social, surpreendentemente, houve uma mudança nas
mentalidades dado que os modos de vida foram alterados e até houve uma
iniciativa à crítica do tradicionalismo, fazendo com que, inevitavelmente, se
tentasse alcançar a liberdade, liberdade essa que fora tão defendida por Sartre.
Fontes consultadas
Documento e
citações:
Imagens:
·
Google
Imagens
Vídeo:
Texto:
·
PINTO
DO COUTO, Célia e MONTERROSO ROSAS, Maria Antónia – O Tempo da História A 12º ano;
·
Porto
Editora – Guia de Estudo: História A 12º
ano
Trabalho
elaborado por: Francisca Vasconcelos nº16
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