quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Guerra Fria

1) Antecedentes

1.1. Fim da II Guerra Mundial

II Guerra Mundial deflagrou em 1939 e terminou apenas em 1945. Este conflito caracterizou-se por se verificar à escala mundial, atingindo todos os continentes, mobilizando vastos recursos e numerosos exércitos. O seu fim trouxe várias consequências, nomeadamente a nível económico, político, demográfico, etc.
Com a derrota das potências do Eixo (Alemanha nazi, Itália fascista, Japão) e dos seus aliados chegou o final da guerra. Assim, as conferências de paz realizaram-se em 1945 em Ialta (Fevereiro) e Potsdam (Julho). Das conferências – que reuniram os líderes das três principais potências aliadas vencedoras (o presidente Roosevelt dos Estados Unidos, Churchill da Grã-Bretanha e Estaline da União Soviética) – saíram importantes decisões, com o objectivo de estabelecer as regras da nova ordem internacional do pós-guerra.

A) Ialta
Fig. 1 - Conferência de Ialta, 1945 (podem ver-se os líderes 
das potências aliadas: Churchill, Roosevelt e Estaline).
- Definição das fronteiras polacas (ponto de discórdia e que havia despoletado o conflito);
- Divisão provisória da Alemanha e da cidade de Berlim em quatro áreas de ocupação governadas pelas três potências já referidas e pela França;
- Estabelecimento das indemnizações de guerra a pagar pela Alemanha;
- Desnazificação da Áustria e da Alemanha;
- Supervisionamento dos “três grandes” na futura constituição dos governos dos países de Leste;
- Julgamento dos criminosos de guerra nazis;
- Decisão de levar a cabo uma conferência preparatória para o surgimento da Organização das Nações Unidas, que viria substituir a desacreditada Sociedade das Nações (que surgiu após a I Guerra Mundial).

B) Potsdam
Não providenciou nenhuma solução definitiva para os países vencidos, limitando-se a ratificar e a pormenorizar os aspectos já acordados em Ialta, como:
- A perda provisória de soberania da Alemanha e a sua divisão em quatro áreas de ocupação;
- A administração conjunta da cidade de Berlim, igualmente dividida em quatro sectores de ocupação;
- O montante e o tipo de indemnizações a pagar pela Alemanha;
- O julgamento dos criminosos de guerra por um tribunal internacional (Nuremberga);
- A divisão, ocupação e desnazificação da Áustria em moldes semelhantes aos estabelecidos para a Alemanha.

A Organização das Nações Unidas (criada em 1945, na Conferência de São Francisco, através da assinatura da Carta das Nações Unidas) prevista na Conferência de Ialta centrou os seus objectivos na manutenção da paz e na repressão dos actos de agressão, utilizando meios pacíficos, de acordo com os princípios da justiça e do direito internacional; no desenvolvimento de relações de amizade entre os países, baseadas na igualdade entre os povos e no seu direito à autodeterminação; na promoção da cooperação internacional no âmbito económico, social e cultural, das boas relações entre os países e da defesa dos Direitos Humanos, funcionando como centro harmonizador das acções tomadas para alcançar estes propósitos.

Economicamente surge também uma nova ordem internacional assente num novo Sistema Monetário Internacional que garantisse a estabilidade das moedas (indispensável ao aumento das trocas) e evitasse as crises cíclicas dos anos 20 e 30 (decisões tomadas na Conferência de Bretton Woods, em 1944), apoiado em importantes organismos como o Fundo Monetário Internacional (FMI), ao qual recorriam os bancos centrais dos países com dificuldades em manter a paridade fixa da moeda ou equilibrar a sua balança de pagamentos e o Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD), que financiaria projectos de fomento económico a longo prazo (era também um organismo da ONU).

Porém, finda a guerra contra o nazismo e o fascismo e o período de negociações de paz, os antagonismos ideológicos das duas superpotências emergidas no final do conflito (Estados Unidos da América e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) vieram ao de cima, acompanhados por diferentes propostas políticas, económicas e sociais:

- Os EUA defendiam um regime político democrático-liberal e uma economia de modelo capitalista (a economia capitalista liberal assenta no princípio de que os problemas económicos se resolvem por eles mesmos, sem interferência estatal, ou seja, que a economia se auto-regula pelas leis da oferta e da procura);
- A URSS defendia um regime político socialista de centralismo democrático (sistema dominado pelo proletariado, uma vez que este elegia, através da prática do sufrágio universal, os representantes dos diferentes órgãos do Partido Comunista, o único existente, sendo que, contudo, as directivas dele emanadas eram de carácter obrigatório, sob pena de recurso à polícia política - a Tcheca, investida de grandes poderes em 1917 - e à extradição para campos de trabalho - os Gulags) e uma economia colectivizada (nacionalizada) e planificada.

A ruptura e entre os dois aliados confirmou-se com o desenvolvimento dos primeiros focos de tensão.

1.2. Primeiros Focos de Tensão

Apesar de aliados na guerra contra o nazismo e o fascismo, os EUA e a URSS foram, a partir do final do conflito, afastando-se progressivamente, graças aos já referidos antagonismos ideológicos e a várias situações que acabaram por contribuir para o aumento da tensão e da desconfiança entre as duas superpotências.
De facto, logo em 1945 regista-se o primeiro foco de tensão entre os dois países: Estaline, líder da URSS, não promoveu eleições verdadeiramente livres na Polónia e pretendia impor no país um governo que lhe inspirasse confiança, levando os EUA  a tentar o envio de observadores internacionais. Estaline opôs-se sob o pretexto de esta acção constituir uma intromissão na ''dignidade polaca''.
Nos primeiros anos do pós-guerra, regista-se ainda outra situação potenciadora de tensões entre EUA e URSS, uma vez que a última se lançou na expansão do comunismo pela Europa de Leste (e, mais tarde, na Ásia e em África, com destaque para as ex-colónias libertas pelas duas vagas descolonizadoras após a II Guerra Mundial).
Esta acção tornou-se possível já que a União Soviética detinha uma vantagem estratégica nos territórios do leste europeu, proporcionada pelo facto de ter sido o Exército Vermelho a libertá-los do domínio da Alemanha nazi. Assim, entre 1946 e 1948, todos esses países tornaram-se comunistas - democracias populares - (à excepção da Jugoslávia), levando os países ocidentais a temer e a condenar o avanço soviético.
O discurso de Winston Churchill, em 1946 nos EUA, é prova disso:

''Os partidos comunistas, que eram muito fracos em todos os estados do Leste Europeu, obtiveram uma proeminência e poder que ultrapassam a sua importância e visam exercer, em toda a parte, um controlo totalitário. (...) já não existe uma verdadeira democracia na Europa de Leste.''
''Não creio que a Rússia soviética deseje a guerra. O que deseja é colher os frutos da guerra e expandir indefinidamente o seu poder e as suas doutrinas.''


Fig. 2 - Mapa político da Europa de 1945 a 1948. Países libertos
do jugo nazi pelo exército soviético - como a Polónia,  a Hungria,
a Roménia... - ficaram, no período mencionado,
sob a égide da URSS.
A par destas afirmações, o político britânico declarou ainda que '' De Stettin no Báltico a Trieste no Adriático, ergueu-se e caiu uma «cortina de ferro»'', sendo que, para Este dessa barreira estariam as nações ''sob a esfera soviética, todas submetidas, de uma maneira ou de outra, à influência soviética e ao controlo apertado (...) de Moscovo'' e para Oeste os países democráticos, ideia que viria a ser reiterada pelo presidente americano Harry Truman, no ano seguinte.
Acusada de ter intenções expansionistas e de substituir o inimigo nazi, a URSS não tardou a responder (no mesmo ano), na pessoa de Estaline. O líder soviético alertou para o facto de Churchill estar ''agora a acender o tição da guerra'' e assegurou que a sua acção política nos países do leste europeu não tinha por detrás pretensões expansionistas, mas destinava-se apenas a garantir que essas nações tivessem governos de boas relações com a URSS, a fim de ''garantir a sua segurança futura''.
Já em 1947 (em Março), o presidente Truman, perante as pressões exercidas pela URSS sobre a Grécia e a Turquia, declara que existe a necessidade de encetar uma política de contenção do avanço do comunismo, naquela que ficou conhecida como a Doutrina Truman.


Nesta, o presidente afirma a existência de um mundo dividido em dois modos de vida política, económica e de organização social diferentes (1º parágrafo), sendo que, um deles (assinalado a verde no doc.), se caracterizaria pelas liberdades fundamentais do ser humano, pela democracia (eleições livres, instituições livres, governo representativo, inexistência de opressão política...) e corresponderia aos países ocidentais, liderados pelos EUA.
O outro (assinalado a cor-de-laranja), seria anti-democrático, impondo através da força, a vontade de uma minoria à maior parte da população, controlando os meios de comunicação social, recorrendo à fraude eleitoral, não respeitando os direitos e liberdades individuais dos cidadãos. Este mundo seria liderado pela URSS que havia imposto o seu domínio a outros países (à Europa de Leste, por exemplo).
Perante o avanço da URSS e do seu domínio, aos EUA caberia a missão de ''apoiar os povos livres'', principalmente ao nível económico, uma vez que a estabilidade financeira permitiria a melhoria do nível de vida das populações e, consequentemente, diminuição da contestação social e da vulnerabilidade destas face às ideias de igualdade e justiça social do marxismo. Esta ajuda viria a concretizar-se num enorme plano de ajuda económica (que será abordado mais adiante) e que, para além dos objectivos de reconstrução europeia, tinha também a intenção de contenção do avanço do comunismo (''containment'').


Em resposta surge a Doutrina Jdanov (do dirigente soviético Andrei Jdanov) que defendia, tal como Truman, a existência de dois campos no mundo:
- Um imperialista (os EUA assumem-se como os ‘’senhores do ocidente’’, impedindo o avanço comunista), anti-democrático e liderado pelos EUA (a verde no doc.);

- Outro democrático, onde reina a fraternidade entre os povos, liderado pela URSS (a cor-de-laranja).




2) Guerra Fria

Todas estas divergências contribuíram para o afastamento progressivo das duas superpotências, para a desconfiança entre si e para a o surgimento de um mundo bipolar no qual EUA e URSS lideravam, cada um, distintas áreas de influência.
A bipolarização caracterizaria o mundo até aos finais da década de 80 - esse período de tensão designou-se por Guerra Fria.
Por se ter estendido num espaço temporal alargado (de cerca de 1947 até meados dos anos 80), a Guerra Fria compreendeu períodos de maior e menor tensão, consoante os líderes que se alternavam no poder.
Podem diferenciar-se quatro períodos na Guerra Fria: 
- O período inicial da Guerra Fria (desde cerca de 1947 até 1955);
- O período de coexistência pacífica (de 1955 a 1962);
- O período de desanuviamento (de 1962 a 1975);
- O período da ''Guerra Fresca'' (de 1975 a 1985).

 2.1. Período Inicial (1947-1955)
NO PODER: 
TRUMAN (EUA) E ESTALINE (URSS) - ATÉ 1953
EISENHOWER E KRUCHTCHEV A PARTIR DE 1953

O primeiros anos da Guerra Fria caracterizaram-se por uma grande intolerância. É durante este período que as potências assumem a sua separação (evidenciada nas doutrinas Truman e Jdanov) e se consolida o bipolarismo através de vários meios dos quais as duas potências se serviram, como:
- Campanhas de propaganda ideológica;
- Corridas aos armamentos (inicia-se em 1947, destacando-se o armamento nuclear), que instala o receio de uma guerra atómica;
- Estabelecimento de alianças militares para enfrentar um eventual ataque (NATO e Pacto de Varsóvia).
O mundo resvala para o “equilíbrio pelo terror” –as duas superpotências optam pela corrida aos armamentos e pela propaganda ideológica para fortalecerem o seu papel no mundo, evitando o confronto directo (que nunca chegou a ocorrer). 
É neste contexto de afastamento e tensão que se regista o primeiro conflito entre as duas potências (Bloqueio de Berlim) e outros conflitos localizados em que ambas intervieram (a Guerra da Coreia e a Guerra da Indochina, por exemplo). 

A) Consolidação do Mundo Bipolar

AS AJUDAS ECONÓMICAS
Apesar das medidas tomadas para a reconstrução do pós-guerra, a Europa viu-se incapaz de reerguer, sozinha, a sua economia: às perdas humanas e matérias juntou-se o rigoroso Inverno de 1946-47 que agravou ainda mais as situações de miséria da Europa. 
Os EUA, crendo que a rápida recuperação económica da Europa tornaria a expansão comunista para ocidente menos propícia (impedindo que os países do ocidente europeu se deixassem seduzir pelo modelo soviético), através do reforço dos laços das nações europeias com os Estados Unidos, ofereceram, em 1947, um enorme plano de ajuda económica a toda a Europa
O Plano Marshall (como ficou conhecido, por ter sido anunciado pelo secretário de Estado americano George Marshall) foi oferecido a toda a Europa, incluindo aos países que se encontravam já sob influência soviética. Porém, a URSS classificou esta ajuda como uma “manobra imperialista” e aconselhou os países de Leste a não aderir.
O Plano Marshall revelou-se essencial à recuperação europeia, uma vez que os países receberam avultadas quantias que coube à OECE – Organização Europeia de Cooperação Económica – distribuir. 
Como resposta Moscovo criou, em 1949, o Plano Molotov, que estabeleceu as estruturas de cooperação económica da Europa Oriental. Foi no âmbito deste plano que se criou o COMECON (Conselho de Assistência Económica Mútua), instituição destinada a promover o desenvolvimento integrado dos países comunistas, sob a égide de URSS.
Os países abrangidos pelos dois planos funcionaram como áreas distintas uma da outra, consolidando a divisão bipolar do mundo e, consequentemente, a liderança das duas superpotências.


O vídeo seguinte (excerto de um documentário da RTP 1) resume, de forma sintética e com imagens da época, as diferenças entre os dois blocos formados na Guerra Fria e o Plano Marshall.



CONFLITOS ENTRE AS SUPERPOTÊNCIAS: A ''QUESTÃO ALEMÃ'' 
A ''Questão Alemã'' levou ao Bloqueio de Berlim  (1948-49), que foi um dos primeiros conflitos entre EUA e URSS.
A cidade de Berlim estava (assim como o território alemão, a Áustria e a própria cidade de Viena) sob uma divisão quadripartida em que cada aliado governava uma zona distinta.

Fig. 3 - Divisão quadripartida da Alemanha e da Áustria. No plano aproximado de
Berlim, é possível perceber a divisão da cidade em áreas de ocupação (ver legenda).


Esta divisão da Alemanha trouxe a cidade de Berlim para o centro da discórdia. A capital encontrava-se situada em território soviético e as forças ocidentais encontravam-se na cidade ocupando as áreas que lhes couberam. Foi a expansão soviética que fez com que estes aliados (nomeadamente os ingleses e os americanos) vissem na Alemanha um aliado essencial na sua política de contenção comunista para o ocidente europeu e, por essa razão, unissem as suas zonas de ocupação. O fracasso desta medida levou a que os ocidentais intensificassem os seus esforços na criação de uma república federal da Alemanha constituída pelos três territórios sob a sua governação (o que veio a acontecer).
Em desacordo com estas medidas (uma vez que afectariam também a zona ocidental de Berlim) e na tentativa de expulsão dos exércitos ocidentais, Estaline bloqueou aos três aliados todos os acessos terrestres à cidade, levando a que os EUA tivessem que estabelecer pontes aéreas para abastecer os habitantes. 

Fig. 4 - Pontes aéreas que os EUA tiveram que
estabelecer para abastecer os berlinenses, 

demonstrando a sua firmeza perante a URSS
e dando prova do seu grande poder tecnológico.
Fig. 5 - Crianças berlinenses saúdam um avião americano,
que fazia a ponte aérea.




O bloqueio durou apenas um ano (Estaline acabou por recuar na sua decisão em 1949) mas contribuiu para agravar o afastamento entre as superpotências e ainda para:
- O culminar da divisão da Alemanha em República Federal Alemã (ocidental) e República Democrática Alemã (oriental), dois estados paralelos sob a jurisdição dos EUA, França e Inglaterra, na RFA e da URSS, na RDA;
- A clarificação definitiva no que concerne às posições e objectivos expansionistas da URSS e dos EUA na Europa, numa primeira fase e do mundo, mais tarde;
- Uma intensa corrida ao armamento e a formação dos primeiros blocos militares antagónicos, que vinham no seguimento dos blocos político-ideológicos e económicos já formados.


AS ALIANÇAS MILITARES
A partir de 1949, os dois blocos esforçaram-se por consolidar e reforçar as suas posições frente ao opositor. Foi neste ano que se formou o primeiro bloco militar da Guerra Fria: a NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Esta era (e ainda é) uma aliança militar estabelecida pelos Estados Unidos da América, em conjunto com outras nações ocidentais. 
Nesta data o temido expansionismo soviético  fez com que os EUA e a Europa Ocidental se vissem na necessidade de criar estruturas de defesa militar que lhes permitissem fazer 
frente à URSS, caso fosse necessário. Desta organização fizeram parte, originalmente, países como a Bélgica, a Noruega, Portugal, Reino Unido, Canadá, Estados Unidos da América (todos países ocidentais). Mais tarde, ainda durante o período da Guerra Fria, juntaram-se ao pacto militar a Grécia e a Turquia (1952), a RFA (1955), entre outras.
O principal objectivo da NATO está expresso no Artigo 5º do Tratado do Atlântico Norte (ou Tratado de Washington), no qual os membros signatários concordaram e assumiram que um ataque armado a qualquer um deles seria considerado um ataque a todos os membros constituintes da organização e, por essa razão, tomar-se-iam as providências necessárias para a sua defesa conjunta (essas medidas seriam tomadas pelo Conselho de Segurança da NATO e teriam como objectivo restaurar e manter a paz e a segurança internacionais).
Fig. 6 - Política de alianças dos EUA e da URSS.
Esta organização militar proposta pelos Estados Unidos e que, ainda hoje, existe, tinha como um dos seus principais propósitos, para além da defesa comum , o de unificar e fortalecer os países da Europa Ocidental e os EUA, de modo a poder fazer face a uma possível invasão do ocidente europeu pela União Soviética e pelos seus aliados do Pacto de Varsóvia.
A URSS, estabeleceu, em 1955, o Pacto de Varsóvia juntamente com os países sob a sua esfera comunista. Tinha como principal objectivo o da mútua defesa entre os referidos países, em caso de ataque do bloco capitalista e constituiu uma resposta à aliança militar estabelecida pelos Estados Unidos conjuntamente com os países do ocidente europeu – a NATO. Surgiu pouco depois de a Alemanha Ocidental - RFA ter assinado, em Paris, um acordo com as potências ocidentais, a fim de passar a fazer parte da NATO.
Como é possível perceber pelo mapa, os EUA não se ficaram apenas pela Europa Ocidental, mas estenderam a sua política de alianças militares a todo o mundo. Exemplos são o TIAR - Inter-American Treaty of Reciprocal Assistance ou Pacto do Rio (1947), a ANZUS ou Pacto do Pacífico (1951), entre outros referidos no documento. Desta forma, os EUA estenderam a sua influência a grande parte do globo.

A CORRIDA AO ARMAMENTO
O clima de guerra fria vivido nestes primeiros anos levou a que o mundo se sentisse na eminência de um conflito armado que era evidenciado pelas crises políticas frequentes e pela violência das acusações mútuas entre os blocos e, sobretudo, as superpotências. Assim, intensificou-se a corrida ao armamento num contexto de grandes avanços técnicos e científicos que contribuíram para a produção armamentista, culminando na explosão de bombas nucleares americanas no Japão, para que este se rendesse na II Guerra Mundial.
Não pretendendo ficar em desvantagem militar face aos EUA, a URSS canalizou investimentos para o estudo e produção de armamento, no âmbito do novo plano quinquenal que privilegiava o desenvolvimento científico e a sua colocação ao serviço do sector militar.
Assim, a escalada armamentista dos primeiros anos da Guerra Fria pode resumir-se da seguinte forma:
- Primeiros anos após a guerra - os EUA detêm o segredo da bomba atómica, que consideram a sua melhor defesa.
- Setembro de 1949 - os Russos fazem explodir a sua primeira bomba atómica e a confiança dos Americanos desmorona-se.
Fig. 7 - Capa da revista ''Time'' de Abril de
1954, com uma fotografia da explosão da
bomba de hidrogénio americana no Pacífico
e evidenciando o seu potencial destruidor.
- Finais 1950 - no Memorando do Conselho de Segurança americano afirma-se a necessidade de aumentar, o mais rapidamente possível, a força aérea, terrestre e naval em geral e a dos aliados de modo a não estarem tão dependentes de armas nucleares (uma vez que já se haviam apercebido que o potencial atómico não era suficiente para conter o expansionismo soviético mundial). Paralelamente, a URSS desencadeia igual estratégia.
- 1952 - os americanos testam, no Pacífico, a 1ª bomba de hidrogénio, com uma potência 1000 vezes superior à bomba de Hiroxima. A corrida ao armamento intensifica-se.
- 1953 - os Russos possuem também a bomba de hidrogénio e o ciclo reinicia-se, levando as duas superpotências à produção maciça de armamento nuclear. Multiplicam-se também outro tipo de armas ‘’convencionais’’.
Durante a Guerra Fria, cada um dos blocos procurou persuadir o outro de que usaria, sem hesitar, o seu potencial atómico em caso de violação das respectivas áreas de influência (nova característica da política mundial – a dissuasão). 
O mundo tinha resvalado, nas palavras de Churchill, para o ‘’equilíbrio instável do terror’’.



2.2. Período de Coexistência Pacífica (1955-1962)

NO PODER: 
EISENHOWER (ATÉ 1961, SUCEDIDO POR KENNEDY) E KRUCHTCHEV

A partir de 1955, verifica-se uma progressiva retoma do diálogo entre as duas superpotências, graças à conjugação de vários factores, como:
- Equilíbrio de forças militares que se enfrentaram na Coreia (que resultou na continuação da divisão do território em Coreia do Norte - comunista - e Coreia do Sul - democrática e capitalista) ;
- Morte de Estaline e subida ao poder de Kruchtchev (1953) que,  juntamente com o Congresso do PCUS condena a política interna de Estaline e expressa o desejo de uma coexistência pacífica com o bloco americano. Kruchtchev procede à ''desestalinização'' da URSS e abre uma via de renovação, quer política, quer económica, tentando uma aproximação ao ocidente;
- Conflitos internos nos blocos(alguns países europeus recusam-se a ser satélites dos EUA, como é o caso da França, De Gaulle, que abandona a NATO; dá-se um conflito entre a URSS e a China em 1962, que provoca a cisão do bloco comunista; surgem problemas na Europa, nomeadamente na Hungria, Polónia, Roménia e Checoslováquia, pondo, esta última, em causa o estalinismo; etc.);
Conferência de Bandung (1955), que promove a descolonização, projecta os países do Terceiro Mundo na cena política internacional e defende o Movimento dos Não-Alinhados, países que defendiam a coexistência pacífica e não aceitavam a filiação nos blocos.
- Visita de Kruchtchev aos EUA (1959) que propicia o recomeço do diálogo.

Fig. 8 - Capa da revista ''Life'' de Outubro de
1959, alusiva à visita de Kruchtchev
(na foto) aos EUA.
Os dois blocos adoptam, então, uma nova política, mais direccionada no sentido do diálogo, procurando a não interferência nos conflitos em zonas sob influência do opositor, sendo isto visível nos acontecimentos ocorridos na Hungria, na Polónia e na Questão do Canal do Suez. EUA e URSS resignam-se a viver em conjunto porque não se podem suprimir mutuamente, sendo que a bipolarização não se esbate, reconhecendo-se apenas o direito de liderança conjunta da política mundial. Nas relações internacionais existe uma vontade partilhada de não forçar os acontecimentos até um fim irremediável.
Contudo, persistem conflitos localizados que demonstraram as bases frágeis da coexistência pacífica:
- Segunda Crise de Berlim (1958-1961): desde a separação da Alemanha em duas nações, que a cidade de Berlim se tornara um importante ponto de passagem dos cidadãos da RDA para o lado ocidental. As deserções (sobretudo quadros técnicos de formação superior) afectavam gravemente a economia da RDA e o prestígio do mundo socialista. Assim, em 1961, inicia-se a construção de um extenso muro que envolve todo o território de Berlim Ocidental. A divisão da cidade simbolizava a divisão do país e do mundo em dois blocos antagónicos;


O vídeo seguinte (pertencente à Fundação do Muro de Berlim) consiste numa animação digital que mostra as fortificações e todo o aparelho militar montado  em torno do muro de Berlim, evidenciando as intensas preocupações da RDA em acabar com as deserções.


Crise dos mísseis de Cuba (1962): surgiu no seguimento da revolução cubana de 1959 que não teve qualquer tipo de motivações de índole comunista (consistiu numa sublevação democrática protagonizada por Fidel Castro e Che Guevara, como revolta contra a ditadura pessoal de Fulgêncio Batista, líder afecto aos EUA). Porém, os seus interesses colidiam com os dos Estados Unidos, uma vez que estes haviam apoiado um desembarque (que acabou por não ter sucesso) de exilados cubanos anti-castristas na Baía dos Porcos, em Abril de 1961, provocando um bloqueio a Cuba como retaliação. O novo regime instalado envereda pelo reforço das relações com a URSS que havia instalado mísseis de médio alcance no país, apontados para os EUA. Em Outubro de 1962, aviões americanos obtêm provas fotográficas da instalação dessas armas e  o presidente Kennedy exige a retirada imediata dos mesmos, sob pena de retaliação com recurso a armas nucleares e isola a ilha através de um bloqueio marítimo.  Entre 22 e 28 de Outubro, um novo conflito de escala mundial esteve eminente. No entanto, tal não se verificou, uma vez que a URSS recuou nas suas intenções: Kruchtchev cede, sob promessa americana e não atacar Cuba.

Fig. 9 - Fotografia aérea americana que evidencia a
existência de mísseis na ilha cubana.
Fig. 10 - Caricatura do período que representa o ''braço de ferro'' entre os líderes das duas superpotências (Kruchtchev,de branco
e Kennedy, de preto), evidenciando-se a eminência de uma guerra nuclear (pelas bombas que cada um possui e pelos dedos dos dois que ameaçam premir o gatilho da sua arma).
A Era Espacial

Fig. 11 - Sputnik 1, o primeiro satélite artificial
da História colocado na órbita terrestre.
Foi desenvolvido e lançado no âmbito do
programa espacial soviético, em 1957.
Desde o início da Guerra fria, as duas superpotências tinham consciência de que a sua superioridade tecnológica era importante e seria decisiva e, por essa razão, dedicaram especial atenção aos ramos da Ciência relacionados com o equipamento militar. Porém, foi durante a coexistência pacífica que se deu início à era espacial.

Durante a II Guerra Mundial, a Alemanha tinha secretamente desenvolvido a tecnologia dos foguetes e criado os primeiros mísseis, na tentativa de atingir a vitória. No final da guerra, os cientistas envolvidos neste projecto emigraram para tanto para a URSS, como para os EUA. Nestes países desempenharam um importante papel nos programas espaciais nacionais.

Apesar de se considerarem tecnologicamente superiores, não foram os EUA os primeiros na corrida espacial: a  URSS colocou-se à cabeça da conquista do espaço já em 1957, quando colocou em órbita o primeiro satélite artificial da História - o Sputnik 1, surpreendendo o mundo que assistiu ao início da era espacial. 
A desolação dos Americanos  foi grande e, tentando igualar o feito dos soviéticos, anteciparam o lançamento do seu próprio satélite, mas o foguetão que o impulsionava explodiu e a experiência foi um fracasso. Nos anos que se seguiram, a aventura espacial foi alimentando o orgulho nacional de ambos os países.
Provado  o potencial técnico e financeiro da URSS ao opositor, esta lança, apenas um mês depois, o Sputnik 2 que permite colocar em órbita o primeiro ser vivo: a cadela Laika.
A tecnologia soviética dominava, deste modo,a conquista espacial.
Os temores dos Estados Unidos perante o poderio técnico e científico da URSS intensificaram-se quando perceberam que os mísseis que colocavam os satélites artificiais no espaço também poderiam conter armas de poder destrutivo a longa distância, que poderiam vir a atingir solo americano, em situação de guerra.
A resposta urgente tornara-se necessária para os americanos e viria a ser alcançada em 1958 como o lançamento do Explorer I.
Fig. 12 - Fotografia do russo Yuri Gagarine e
jornal do período que noticia a ida
 do primeiro Homem ao Espaço.
Porém, os EUA seriam novamente ultrapassados pelo inimigo soviético em 1961, quando é lançado o satélite Vostok I que, pela primeira vez, levava consigo um ser humano - o jovem Yuri Gagarine.

Os EUA só viriam a conseguir verdadeiro sucesso já em 1969, conseguindo realizar a primeira alunagem (aterragem em solo lunar), com os astronautas Edwin Aldrin e Neil Amstrong.
Este último, o primeiro Homem a pisar a Lua, declarou algo que ficaria na História, no momento em que concretizou o feito:

''O que é um pequeno passo para o Homem é um grande salto para a Humanidade.''




2.3. Período de Desanuviamento (1962-1975)

NO PODER: 
JOHNSON (1963-69), NIXON (1969-74) E BREJNEV (A PARTIR DE 1964)


Fig. 13 - Leonidas Brejnev (1906-82), dirigente
soviético que sucedeu a Kruchtchev de 1964 até
ao ano da sua morte, caracterizando-se o
seu mandato por um recuo face ao de Kruchtchev,
regressando-se ao intenso culto da personalidade,
imobilizando-se as estruturas de poder da URSS e
verificando-se grande corrupção.
A gravidade da crise de Cuba abre portas a um desanuviamento nas relações internacionais, tomando-se medidas no sentido do apaziguamento, como:
- Estabelecimento de um telefone vermelho entre a Casa Branca e o Kremlin;
- Tratado do Espaço Exterior (1967) que proibia a colocação de qualquer tipo de arma na órbita terrestre;
- Realização de tratados de não proliferação de armas nucleares (Tratado de Não Proliferação Nuclear, 1968, para a redução do arsenal nuclear);
- Realização de negociações sobre a limitação do armamento (SALT);
- Reaproximação das duas Alemanhas (1975) e realização da Conferência de Helsínquia para o entendimento e respeito recíproco dos países europeus (1975).

Contudo, as duas potências continuam a enfrentar-se em conflitos localizados (em países do Terceiro Mundo). Na tentativa de conter o comunismo, por exemplo, os EUA intervêm num conflito que se revela sangrento e desastroso para si - a Guerra do Vietname (1964-1973).
Esta opôs o Vietname (dividido após a descolonização) do Norte e do Sul, apoiados pelas duas potências. As forças norte-americanas combateram contra o Vietcong, um movimento de guerrilha comunista apoiado pelo governo norte-vietnamita e que recebia da China e da URSS armamento.
Fig. 14 - Manifestação nos EUA contra a guerra da Indochina
e do Vietname, esta última desastrosa para os americanos.


2.4. Período da ''Guerra Fresca'' (1975-1985) e fim da Guerra Fria


NO PODER:
FORD (ATÉ 1977), CARTER (1977-81), REAGAN (A PARTIR DE 1981), 
BREJNEV (ATÉ 1982), ANDROPOV (1982-84), TCHERNENKO (1984-85),
GORBATCHEV (A PARTIR DE 1985)

Contrariamente ao desanuviamento que se fez sentir entre 1962 e 1975, a partir deste ano acentuam-se as divergências, devido à crise económica (Choque Petrolífero de 1973), à derrota americana no Vietname e ao afrontamento nuclear. Assim, a corrida aos mísseis intensifica-se nos dois blocos e nos EUA Reagan inicia um programa de rearmamento (‘’guerra das estrelas’’).


O intensificar das tensões entre os dois blocos e, mais concretamente, entre os EUA e a URSS foi matéria de várias produções culturais (músicas, por exemplo). O vídeo seguinte contém uma música do artista britânico Sting, de 1985. Esta é um bom exemplo de um olhar de alguém que viveu no período da Guerra Fria e que evidencia as tensões entre americanos e soviéticos e o perigo da eclosão de uma guerra nuclear. 






Fig. 15 - Mikhail Gorbatchev (n. 1931), líder
soviético que, pela sua importante contribuição
 para o fim daGuerra Fria, foi agraciado com
o Prémio Nobel da Paz, em 1990.
Porém, um novo líder soviético que veio substituir Tchernenko - Gorbatchev - simbolizou, com a sua política, a aproximação entre os dois blocos, uma vez que considerava que as suas energias deveriam ser mobilizadas ao serviço do bem, levando a que o diálogo e as negociações regressassem em 1985.

''É melhor falar sobre as coisas, discutir e entrar em polémicas do que congeminar pérfidos planos de mútua destruição.'' Gorbatchev


Secretário-geral do PCUS (1985-1991) e presidente da URSS (1990-1991), concentrou os seus esforços na democratização política e na descentralização da economia soviética (a grande revolução a que deu o nome de Perestroika). 

Em 1988, Gorbatchev abandonou a Doutrina Brejnev (um princípio político central na política externa da URSS que limitava a soberania das nações do Pacto de Varsóvia). Esta mudança permitiu aos países do bloco soviético determinar a sua própria política nacional. A Hungria foi a primeira a provocar uma ruptura na ''cortina de ferro'',  desmantelando as suas barreiras fronteiriças. O crescimento dos protestos que emergiram entre a população da RDA nos finais dos anos 80 e o incremento da migração da RDA para a RFA, levou ao fim da ditadura em 1989. Uma nova lei de emigração foi anunciada, falsamente, em Novembro desse ano e multidões apressaram-se até à fronteira - o muro de Berlim acabou por cair pela força da multidão levando ao colapso da RDA.

Estas acções levaram à queda do comunismo e ao desmembramento da URSS em 1991 - o desmoronamento do bloco soviético iniciará uma nova ordem internacional. 




Fig. 16 - Queda do muro de Berlim (Novembro de 1989),
materialização da Guerra
Fria  e da bipolarização e símbolo da divisão do
mundo em bloco comunista e capitalista.

Fig. 17 - Queda do mura de Berlim.




3) Fontes Consultadas

3.1. Bibliografia

TORÍBIO, Manuel José (direcção), ''História Universal - Da Revolução Industrial ao Mundo de Hoje'', Oceano
''Preparação para o Exame Nacional 2010'', História A, 12º Ano, Porto Editora
''Guia de Estudo'', História A, 12º Ano, Porto Editora
COUTO, Célia, ROSAS, Maria, ''O Tempo da História'', História A, 12º Ano, 2º volume, Porto Editora

3.2. Webgrafia

www.edusurfa.pt
www.infopedia.pt
www.nato.int 
www.history.com 
www.berliner-mauer-gedenkstaette.de


Trabalho Realizado por:
Ana Rita Cruz, nº 3 12ºJ

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