sábado, 25 de fevereiro de 2012

O Terceiro Mundo


No final da Segunda Guerra Mundial, a Europa encontrava-se economicamente, financeiramente e fisicamente destruída, sendo necessária a sua reconstrução e estabilização social, económica, financeira e política. É neste contexto que se assiste à divisão do mundo em dois blocos antagónicos capazes de oferecer apoio a uma Europa destruída – a União Soviética e os Estados Unidos, comunistas e capitalistas, respectivamente. Rapidamente os dois blocos levaram a cabo medidas no sentido de criarem uma autêntica rede de alianças de modo a alcançar a hegemonia do bloco. Assim, ofereceram planos de ajuda económica e financeira, bem como planos de apoio militar aos países que se tornassem apoiantes dos blocos


 AS DUAS VAGAS DE DESCOLONIZAÇÃO

Além disso, o fim da guerra deixou à vista as fragilidades da Europa, surgindo uma primeira vaga de descolonizações. Até então vistos como invencíveis e inatingíveis, os países colonizadores mostravam-se incapazes de defender os seus interesses coloniais. Por outro lado, a luta contra a opressão das potências do Eixo – uma luta pela liberdade – estendeu-se pelo resto do mundo, não se restringindo à Europa. O fim da Segunda Guerra Mundial despertou os países colonizados - países sem autonomia económica, sobre-populados, pobres, cuja população sofre de fome e inúmeras outras doenças - que se aperceberam da contradição evidente nas posições europeias que, por um lado, defendiam a liberdade contra o autoritarismo e, por outro, negavam essa mesma liberdade a outros.
A vaga de descolonizações justifica-se ainda pelo contexto de Guerra Fria que naturalmente influenciou esta questão – ambas as potências envolvidas apoiavam a descolonização. No caso dos Estados Unidos, faziam-no por influência do seu passado histórico de luta pelos seus próprios interesses económicos e independência e, no caso da União Soviética, faziam-no tendo em conta a ideologia marxista que remete para a revolta dos oprimidos pelos interesses económicos capitalistas. Contudo, ambas as potências o fizeram pelo mesmo motivo – a expansão dos seus ideais. O facto de países outrora colonizados se tornarem independentes significava que estariam, agora, permeáveis às influências políticas e económicas das potências.

Outra justificação para este movimento reside na criação da ONU – Organização das Nações Unidas, criada no seguimento da Segunda Guerra Mundial – cujo principal princípio era o da igualdade e direito dos povos à auto-determinação.

A primeira vaga de descolonizações teve início em 1946, tendo abrangido o território asiático:
  • Filipinas, em 1946, controlada pelos Estados Unidos desde 1898;
  • Índia, em 1947, há muito a “jóia da Coroa” britânica, cujo território ficou dividido em dois Estados – União Indiana, primariamente hindu e o Paquistão, primariamente muçulmano – bem como o Ceilão, a Birmânia e a Malásia (caso excepcional, já que a sua boa posição estratégica causou hesitação em ceder a independência por parte da Inglaterra);
  • Declara-se a República da Indonésia em 1945, face à qual os Holandeses recorrem à força. A pressão da ONU leva a Holanda, em 1949, a reconhecer a independência da Indonésia; 
  •  Em 1945, a França defronta-se na Indochina com Ho Chi Minh, despoletando a Guerra da Indochina. Inicialmente vista apenas como uma revolta contra o colonialismo francês, passa a ser vista como uma tentativa de expansão dos ideais comunistas na Ásia. A França acaba por abandonar o território quando, em 1954, são vencidos.

O Continente asiático colonizado

Este movimento de descolonização asiático influenciou a segunda vaga de descolonização, passando esta a abranger o continente africano.
  • A Líbia, colocada sob a tutela da ONU, alcança a independência em 1951
  • Em 1956 Marrocos e Tunísia da França obtêm a independência
  • No mesmo ano inicia-se com entre a França e a Argélia uma longa guerra devido à não-cedência do território por parte do milhão de colonos franceses que lá residiam. A situação da guerra finda em 1962 com a independência da Argélia ganha.

O Continente africano colonizado


Iniciando-se no Norte de África, movimentos nacionalistas inflamam o resto do continente africano, como o PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde) e o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola). 

 Amílcar Cabral, líder do PAIGC

Os seus líderes, em muitos dos casos, educados das metrópoles, tiveram acesso a ideais de justiça social e liberdade, que passam a querer levar para os seus países. Os movimentos nacionalistas – que visavam a recuperação de uma identidade nacional e individual destes povos desde há muito sob domínio colonial – passam a ter uma vertente política e económica (luta contra a pobreza e atraso), atribuindo-se a culpa do atraso económico destes países aos países colonizadores. Este é o factor que explica o porquê da identificação com os ideais igualitários de cariz socialista, nalguns casos.

Este processo de independência foi grandemente apoiado pela ONU, tendo a Assembleia-Geral aprovado, em 1960, a Resolução 1514, reafirmando o direito à autodeterminação dos territórios que se encontravam sob administração estrangeira e condenando qualquer tipo de restrição e acção armada por parte das metrópoles que se oponham a este processo.
No mesmo ano, em 1960, surgem 18 novos países e destaca-se o caso de Chipre, sendo o único dos 18 a não fazer parte do continente africano.


O SURGIMENTO DO TERCEIRO MUNDO

Surge, assim, o Terceiro Mundo, nascido do longo processo da descolonização e incluindo as regiões mais empobrecidas e com os níveis mais elevados do globo inteiro.


1975 - A azul, os países do Primeiro Mundo; a vermelho, os países do Segundo Mundo; a verde, os países do Terceiro Mundo

Devido ao facto de ser fruto do processo de descolonização, o Terceiro Mundo dependia economicamente dos países mais ricos. A exploração colonial foi um entrave ao desenvolvimento interno desses países. Esses países mais ricos, por sua vez, continuaram a sua exploração desses países – matérias-primas, minérios, recursos agrícolas, … – através de grandes companhias multi-nacionais, em troca de produtos manufacturados. Isto contribui para o maior atraso económico do Terceiro Mundo. Por um lado, os lucros das multi-nacionais não são aplicados aos locais onde se inserem. Por outro, enquanto que os preços dos produtos industriais sobem, o valor das matérias-primas desce. Aponta-se assim para outro tipo de exploração económica feita pelos mais fortes aos mais ricos – o neocolonialismo. Ao contrário do colonialismo “normal”, este é feito de forma indirecta, através da supremacia económica e financeira das nações mais ricas. O neocolonialismo foi denunciado desde cedo pelos países de Terceiro Mundo.




TERCEIRO MUNDISMO E A POLÍTICA DO NÃO ALINHAMENTO

O terceiro-mundismo é uma corrente ideológica característica dos países de Terceiro Mundo que visa o apoio a nações-estado do Terceiro Mundo ou movimentos de libertação nacional contra as nações ocidentais, baseando-se no ponto de vista de que o capitalismo contemporâneo é essencialmente imperialista. Assim, promove-se a resistência ao aproveitamento das nações capitalistas mais avançadas sobre as outras. Esta corrente ideológica foi disseminada através da Conferência de Bandung (e reafirmada posteriormente na Conferência de Belgrado) e na corrente política por estes países criada – a política de não-alinhamento.

A Conferência de Bandung deu-se entre 18 e 24 de Abril de 1955, na Indonésia. Nela, reuniram-se os líderes de vinte e nove Estados asiáticos (como a Arábia Saudita, a Birmânia, o Laos, a Líbia, o Ceilão) e africanos (a Etiópia, a Líbia, a Libéria e o Egipto). A Conferência de Bandung teve como objectivo a promoção da cooperação económica e cultural entre os continentes Asiático e Africano, de modo a fazer face ao (neo)colonialismo por parte dos Estados Unidos, da União Soviética e de qualquer outro país considerado Imperialista.

Nela ficaram acordados os seguintes pontos:
1.       Respeito dos direitos fundamentais, de acordo com a Carta da ONU.
2.       Respeito pela soberania e integridade territorial de todas as nações.
3.       Reconhecimento da igualdade de todas as raças e nações, grandes e pequenas.
4.       Não-intervenção e não-ingerência nos assuntos internos de outros países. (Autodeterminação dos povos).
5.       Respeito pelo direito de cada nação se defender, individual e colectivamente, de acordo com a Carta da ONU.
6.       Recusa na participação dos preparativos da defesa coletiva destinada a servir aos interesses particulares das superpotências.
7.       Abstenção de todo o acto ou ameaça de agressão, ou do emprego da força contra a integridade territorial ou a independência política de outro país.
8.       Solução de todos os conflitos internacionais por meios pacíficos (negociações e conciliações, arbitragens por tribunais internacionais), de acordo com a Carta da ONU.
9.       Estímulo aos interesses mútuos de cooperação.
10.   Respeito pela justiça e obrigações internacionais.

Esta conferência, para além do seu efeito importante no processo de descolonização, foi o primeiro passo para a afirmação política dos países do Terceiro Mundo. A crescente afirmação política levou à criação do Movimento dos Não Alinhados, na Conferência de Belgrado em 1961. Este movimento é uma associação de países que, em contexto da Guerra Fria, não se posicionam ao lado de nenhum dos dois blocos antagónicos – Estados Unidos e União Soviética – tendo como objectivo o estabelecimento de uma terceira via política alternativa à bipolarização mundial.

Envolvendo países dos continentes asiático, africano e americano, este movimento propôs-se a ter uma intervenção activa e construtiva visando o solucionamento de confrontos através da via pacífica e o estabelecimento da paz mundial. Contudo, a acção deste movimento destinou-se sobretudo à luta contra o colonialismo.

Infelizmente, o afastamento das duas potências e, portanto, independência, assumia um certo nível de segurança e estabilidade económica profundamente estranha a estes países sub-desenvolvidos recém-formados. 

Crítica à fome dos países de Terceiro Mundo


Recapitulando:
Na segunda metade do século XX assistiram-se a duas vagas de descolonização. Destacaram-se ainda duas formas de descolonização - pacífica, aceite pela metrópole sem necessidade de recorrer à força armada, e a que só se concretizou através de força armada.
O termo "Terceiro Mundo" surgiu durante a Guerra Fria para definir os países que permaneceram não alinhados nem com o capitalismo e a OTAN (que, juntamente com os seus aliados, representam o Primeiro Mundo), nem com o comunismo e a União Soviética (que, juntamente com os seus aliados, representam o Segundo Mundo).

Bibliografia:
http://www.twnside.org.sg/title2/resurgence/twr.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Terceiro-mundismo
http://www.infopedia.pt/$movimento-dos-paises-nao-alinhados
Apontamentos tirados ao longo das aulas
http://en.wikipedia.org/wiki/Third_World
http://anti-politics.net/distro/2009/decolonization.pdf
Filipe Monteiro


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